Nonato Guedes
Dentro da estratégia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de apostar no aumento de alianças dentro do Senado a partir das eleições de 2022, preparando-se para a hipótese de vir a ser eleito ao Palácio do Planalto, o PT trabalha com nomes fortes de aliados para vencer eleições majoritárias estaduais. Entre os nomes cotados, de acordo com um estudo do Partido dos Trabalhadores, estão quatro governadores da região Nordeste confirmados após reuniões com Lula: Wellington Dias, do Piauí, Camilo Santana, do Ceará, Paulo Câmara, de Pernambuco, e Flávio Dino, do Maranhão. Dias e Santana são petistas, enquanto Câmara e Dino são do PSB. Flávio Dino, inclusive, deixou os quadros do PCdoB e filiou-se ao PSB para reforçar a base de Lula.
O líder petista tem mantido contatos com lideranças nacionais de partidos de esquerda alinhados com o PT, a exemplo do PSB, para costurar alianças antecipadas, mas não descarta entendimentos, também, com o MDB em alguns Estados. Estima-se que a aliança entre PT e PSB pode lançar candidatos ao Senado em sete Estados do Nordeste e alçar um suplente do PSB para a Casa. Na Paraíba, o ex-governador Ricardo Coutinho rompeu com o PSB e se refiliou ao PT com a intenção de ser candidato a senador com o apoio de Lula. Há dúvidas, porém, quanto à elegibilidade de Ricardo para disputar o próximo pleito, tendo em vista pendências judiciais mais ou menos pacificadas que o desfavorecem, bem como a imprevisível evolução do desfecho de processos da Operação Calvário sobre desvios de recursos da Saúde e da Educação, nos quais o ex-governador paraibano é citado.
Em 2018, Ricardo abriu mão da chance de concorrer a uma das cadeiras no Senado, tendo justificado que não teria maior afinidade com aquele Poder, enquanto, de outra vez, alegou que iria permanecer no Executivo até o último dia do mandato para eleger o sucessor. Esse feito foi conseguido, com a vitória de João Azevêdo já no primeiro turno. Ricardo fez movimentos, também, para dificultar a reeleição do seu ex-aliado Cássio Cunha Lima (PSDB), que acabou sacrificado no tesye das urnas quando tentava renovar o mandato conquistado em 2010. Lula já deixou claro, recentemente, ao abonar a ficha de refiliação de Ricardo ao PT que o ex-governador tem seu apoio para concorrer a uma vaga de senador e que se dispõe a percorrer, com ele, diferentes regiões do Estado para pedir votos em conjunto. Mas há quem afirme que Lula agiu assim para pagar dívida de gratidão com Ricardo, acrescentando que o ex-presidente tem pleno conhecimento dos obstáculos jurídicos que Ricardo Coutinho terá que vencer para se viabilizar como candidato a senador.
Coincidência ou não, Lula tem adiado sua vinda à Paraíba para contatos políticos, embora em Brasília e São Paulo converse com expoentes do cenário estadual, faltando agendar uma conversa que ele se prontificou a ter com o governador João Azevêdo (Cidadania), que é seu eleitor declarado. Lula fez a promessa de vir à Paraíba e ser recebido no Palácio da Redenção por João Azevêdo durante encontro com ele em evento do Consórcio Nordeste, realizado em Natal, Rio Grande do Norte. Não houve, porém, fixação de data concreta para tanto. A necessidade de fortalecimento da bancada de congressistas da legenda ou da base de Lula esteve na pauta da reunião dele com a bancada do PT no Legislativo no dia 4 em Brasília. Segundo informou o senador Humberto Costa, do PT de Pernambuco, “o presidente Lula falou da necessidade de ampliar o número de parlamentares federais, inclusive procurando pessoas que têm uma certa dimensão para elas entrarem na disputa proporcional”.
Humberto Costa observa que, hoje, o predomínio do Centrão é muito grande e Lula não pretende ficar refém desse agrupamento fisiológico, nem no Senado, muito menos na Câmara Federal. A meta do Partido dos Trabalhadores, em princípio, é eleger entre 80 a 100 deputados, como já ocorrei em outros anos. Já a meta em relação a senadores para eleger ainda não foi estipulada, mas será criada uma comissão de estratégia eleitoral do partido para definir a situação. Apurou-se que Lula, além de assegurar apoio parlamentar para tocar a chamada governabilidade, investe na perspectiva de maioria para barrar, em plenário, pedidos de impeachment contra ele que forem formulados por bolsonaristas radicais, inconformados com uma suposta derrota do seu chefe no projeto de reeleição no próximo ano. Lula tem pontuado que não descarta manobras bolsonaristas em atos de desespero no pós-eleitoral de 2022 e quer acumular forças para fazer frente a eventual rolo compressor, daí as costuras que estão sendo “amarradas” a partir de Estados do Nordeste, com ramificações por Estados de outras regiões importantes do território nacional.