Nonato Guedes
O cardiologista paraibano Marcelo Queiroga projeta-se, atualmente, pela atuação polêmica à frente do ministério da Saúde no governo Jair Bolsonaro e, também, pela aceleração da campanha de vacinação contra a Covid-19, mas, antes dele, um outro paraibano ilustre chegou a ser cogitado para a Pasta, no governo José Sarney, em 1985: o ex-senador Marcondes Gadelha, atual presidente do PSC no Estado, que era filiado aos quadros do PFL. No final daquele ano, Marcondes ganhou um reforço valioso para as suas pretensões, com a declaração de apoio do senador José Fragelli, presidente do Senado, que considerava tal escolha como “qualitativa” e manifestou a opinião de que Marcondes seria “um excelente ministro”, conforme publicado pelo jornal “Correio Braziliense”.
No governo que antecedeu Sarney, o do general João Batista Figueiredo, último presidente do ciclo militar instaurado com o movimento de 1964, Gadelha teve o nome especulado para outro ministério – o da Previdência, e acabou não emplacando nem neste nem na Saúde. Remanescente do antigo MDB, onde era expoente do chamado grupo dos “autênticos”, que fazia oposição à ditadura militar, Marcondes Gadelha acabou migrando para o PFL, com a condição de ser o candidato ao Senado em 1982, tendo sido eleito em conjunto com o governador vitorioso Wilson Braga, do PDS. Sua saída do MDB, que passou a chamar-se PMDB, deveu-se a divergências causadas pelo ingresso no partido do seu adversário político na cidade de Sousa, Antônio Mariz, já falecido. O governo Sarney teve dois paraibanos no ministério: Maílson da Nóbrega, na Fazenda, e Celso Furtado, na Cultura.
Tido como um dos mais brilhantes oradores políticos da Paraíba, Marcondes Gadelha, que reside em Brasília e aparenta ter arquivado ambições políticas pessoais, formou-se em Medicina pela Universidade Federal de Pernambuco, onde ingressou no início da década de 1960. Por ocasião da sua vida universitária, ele iniciou-se no exercício da política como representante de classe e, posteriormente, orador da sua turma de formandos. “O despertar para a política foi bastante precoce, muito embora eu tivesse também background político, de política eleitoral, bastante longo, pois meu sempre foi político, bem como toda a minha família”, contou ele para o livro de Ana Beatriz Nader sobre a saga dos “autênticos” do MDB. O pai de Marcondes era o usineiro José de Paiva Gadelha, que foi suplente de deputado federal e ascendeu à titularidade.
Marcondes fez residência médica em Brasília, e sua vocação, naquele momento, apontava para um aprofundamento nos estudos de Medicina, especialmente na área de cirurgia, tencionando ir para os Estados Unidos a fim de aprimorar-se em intervenções cardiovasculares. Por conta de uma disputa política local, muito acirrada na cidade de Sousa, seu pai pediu-lhe para que Marcondes permanecesse algum tempo no município. “A medicina era uma forma de fazer política e de ajudar a família contra os que estavam no enfrentamento da luta local”, recordou ele, para justificar a sua candidatura a prefeito de Sousa, em 1968, que foi derrotada. Em 1970, Marcondes foi o deputado federal mais votado do MDB da Paraíba e, chegando a Brasília, logo adquiriu projeção na atividade política. Em 1986, Marcondes Gadelha foi candidato ao governo da Paraíba, substituindo ao empresário José Carlos da Silva Júnior, que desistiu da indicação pelo PDS. Enfrentou nas urnas o ex-governador Tarcísio Burity, que concorreu pelo PMDB, e o derrotou por uma diferença de quase 300 mil votos. Posteriormente, em 1990, Marcondes tentou voltar ao Senado, porém, sem êxito.
Ele e Mariz acabaram fazendo as pazes depois da vitória de Antônio Mariz a governador, em 1994, derrotando nas urnas a deputada federal Lúcia Braga, que, desta feita, concorria pelo PFL. Empossado, Mariz convidou Marcondes para ser seu secretário de Agricultura. O governador, porém, faleceu em setembro de 1995, vítima de complicações de câncer no cólon. Sobre o cardiologista Marcelo Queiroga, ele mesmo tornou público que sua indicação para ministro da Saúde no governo Bolsonaro foi sugerida pelo senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente, com quem tem ligações de amizade. O cardiologista paraibano integrou um grupo de assessoramento ao candidato Jair Bolsonaro, com sugestão de propostas para defesa, pelo candidato, na campanha eleitoral de 2018, em que derrotou Fernando Haddad, do PT. Queiroga tem sido alvo de intenso bombardeio na mídia, em grande parte devido ao desgaste do governo Bolsonaro, e há especulações sobre provável interesse seu em concorrer a um mandato eletivo pela Paraíba em 2022. Por enquanto, ele segue no ministério, procurando avançar nas demandas e desafios da Pasta que dirige.