Nonato Guedes
Ainda repercute nos meios políticos de João Pessoa e do Estado o incidente ocorrido entre os candidatos a prefeito de João Pessoa Ruy Carneiro, do PSDB, e Ricardo Coutinho, do PSB, durante debate com um grupo empresarial na noite de quinta-feira. Na ocasião, depois de apresentar suas propostas, Ruy disse que se sentia muito constrangido com a presença do adversário no evento. “Quero lhe dizer que me constranjo com sua presença aqui, principalmente porque nós estamos falando de dinheiro público, da vida das pessoas, do respeito às pessoas”, disse Ruy, de bate pronto, após revelar que o socialista adota um tom agressivo nas suas intervenções e lembrar que ele foi preso no bojo da Operação Calvário, que investiga desvio de recursos da Saúde e Educação na gestão de Coutinho no governo do Estado. Também mencionou que até recentemente Ricardo circulava com tornozeleira eletrônica, como parte de medidas cautelares decretadas pela Justiça.
– Você recebeu um vale-night da Justiça para estar aqui e é importante que o eleitor entenda esse momento – admoestou Ruy Carneiro, acrescentando que atitudes tomadas pelo ex-governador Ricardo Coutinho envergonham toda a Paraíba. “A população amadureceu e já não aceita mais os esquemas de desvios milionários dessa quadrilha ricardista. A resposta será nas urnas”, prosseguiu. Alguns presentes ao debate relataram que Ricardo teria se aproximado de Ruy e reclamado com palavrões do que o tucano havia dito. Segundo uma versão, Riccardo teria dito, em tom de ameaça, que iria “pegar” Ruy. O candidato do PSB avisou através da assessoria que não pretendia se manifestar a respeito. Ruy reverberou as críticas nas últimas horas, alertando que o acerto de contas de Ricardo com a Justiça vai chegar novamente. Lembrou, então, que a denúncia do Ministério Público aponta o ex-governador como cabeça do maior esquema de corrupção na saúde, acusado de desviar R$ 134 milhões em dinheiro e concluiu que ele “não ficará impune”.
Ruy tem atacado simultaneamente na campanha eleitoral deste ano o seu ex-aliado político Cícero Lucena, candidato pelo Partido Progressistas, e Ricardo Coutinho, além de centrar fogo na administração do prefeito Luciano Cartaxo (PV), que está concluindo o segundo mandato e que apoia a candidatura da ex-secretária de Educação, Edilma Freire. Na campanha eleitoral de 2004, Ruy Carneiro foi candidato pela primeira vez a prefeito da Capital com o apoio de Cícero, em cuja administração ocupou a Chefia da Casa Civil e colocou em prática um projeto denominado “Se eu fosse Prefeito”. Perdeu nas urnas, exatamente, para Ricardo Coutinho. A saída de Lucena do PSDB e a decisão de ser novamente candidato azedaram as relações entre Ruy e o antigo aliado. Pesou também no choque a aceitação, por Cícero, do apoio do governador João Azevêdo (Cidadania) à sua postulação. Ruy desabafou que Azevêdo integrou o grupo ricardista que denunciou Cícero no âmbito da Operação Confraria, e insinuou que o atual governo não está imune às acusações da Operação Calvário.
A reportagem apurou que a presença de Ricardo Coutinho em debates setoriais, com representantes de entidades de classe e segmentos da sociedade, tem causado constrangimentos, também, a outros postulantes à prefeitura de João Pessoa nas eleições deste ano. Ontem, uma pesquisa do Ibope revelou que Ricardo Coutinho lidera, juntamente com Marcelo Crivella, candidato à reeleição no Rio de Janeiro, o índice de rejeição na disputa entre capitais de todo o país. O percentual atribuído ao ex-prefeito de João Pessoa seria de 43%, enquanto Marcelo Crivella, na liderança do ranking, tem 57% de rejeição. O prefeito do Rio é investigado no caso do suposto “QG da Propina” e tem, ainda, a gestão avaliada como ruim ou péssima por 66% dos cariocas. Há outros políticos “enrolados” com a Justiça que disputam o pleito deste ano e sofrem alto índice de rejeição, como José Priante (MDB), candidato a prefeito de Belém, Clarissa Garotinho (Pros), do Rio e Nelson Marchezan, do PSDB, prefeito de Porto Alegre. Marchezan, inclusive, é alvo de processo de impeachment na Câmara pelo uso de R$ 3,1 milhões do Fundo Municipal de Saúde para pagar publicidade.