Nonato Guedes
Adversários do governador João Azevêdo (PSB), candidato à reeleição, ligados ao senador Veneziano Vital do Rêgo, que compete com ele pelo MDB, apoiado pelo PT paraibano, estão espalhando que o chefe do Executivo teria passado a “escantear” a figura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Guia Eleitoral em emissoras de rádio e TV, como se João estivesse “desembarcando” da base lulista em que se anunciou. Há ressalva de que integrantes da chapa majoritária liderada por João, como o candidato a vice-governador Lucas Ribeiro (PP) e a deputada estadual Pollyanna Dutra (PSB), candidata ao Senado, não têm sido enfáticos na defesa da candidatura de Lula em suas manifestações. Pollyanna bem que cuidou de massificar ligações suas com o governo de Lula quando foi prefeita da cidade de Pombal, no Sertão, mas agora envolve outras bandeiras de luta, segmentadas para públicos que podem lhe trazer votos.
Fontes políticas ligadas ao “staff” de campanha de João Azevêdo explicam que o governador não alterou uma vírgula sequer no seu posicionamento em prol da candidatura de Lula, até porque o candidato a vice na chapa é seu companheiro de PSB, o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. O problema é que a estratégia de João não é, nem pode ser, idêntica à estratégia de Veneziano na corrida pelo governo estadual. O atual chefe do Executivo precisa enfronhar-se no debate local, inclusive, para fazer frente ao bombardeio de adversários que o elegeram como alvo principal, aí incluído o próprio Veneziano, que já foi seu aliado no passado bem recente. João entende que tem um saldo positivo de obras e serviços a mostrar e, em paralelo, precisa antecipar propostas para um segundo governo. Nessas condições, o debate sobre Paraíba ganha importância, até porque Lula detém percentual elevado de intenções de votos para a Presidência da República neste território.
Antes mesmo da deflagração da campanha e da definição de política de alianças e apoios políticos, o governador foi lembrado da necessidade de abrir o “portfólio” de realizações e investimentos administrativos que logrou viabilizar em plena situação adversa, com o desafio do enfrentamento prioritário à pandemia de covid-19. Até então, a ausência de uma ampla ou maciça divulgação de feitos governamentais ficou ofuscada, em parte, pelo peso ou repercussão de outros temas mais urgentes que entraram no radar. Líder político que se preza não pode estar aferrado a “camisa de força” em campanha eleitoral; pelo contrário, deve estar aberto para um mundo de possibilidades a serem exploradas no diálogo com a população, como decorrência do próprio dinamismo dos fatos e da conjuntura em que está se travando a disputa pelo controle do governo estadual.
O governador, por outro lado, sentiu a necessidade de fazer valer a sua credencial de técnico experiente e versado no domínio dos problemas administrativos da Paraíba, dado que exerceu missões em outras gestões e que foi, também, um ideólogo de projetos que viraram realidade, ou seja, se transformaram em obras de pedra e cal, beneficiando segmentos da população paraibana nas diferentes regiões. Esta faceta carecia de maior divulgação e as avaliações do seu “staff” focaram essa particularidade, levando o governador a redimensionar os discursos como candidato à reeleição e adaptá-los às situações experimentadas numa Paraíba dotada de vocações diferenciadas e de reivindicações específicas ou pontuais, no interesse das pautas de cada região. O resultado é que nos últimos programas eleitorais João tem sido mais afirmativo, inclusive na denúncia de “políticos que são candidatos para atender a seus chefes”, indicando que da parte do governador não há receio nem desânimo no enfrentamento das polêmicas agitadas. Essa tática é legítima na chamada reta final de primeiros turnos de eleições aos governos, na Paraíba e em outros Estados.
Por fim, avalia-se no círculo íntimo do governador socialista paraibano que não precisa muito “blá-blá-blá” para deixar clara a identificação de João com a candidatura do ex-presidente Lula da Silva. A opinião pública paraibana tem acompanhado com interesse as manobras que foram feitas pelo grupo que apoia o senador Veneziano Vital do Rêgo e a candidatura do ex-governador Ricardo Coutinho ao Senado para tentar isolar João, a todo custo, do palanque lulista no Estado, numa tática considerada egoísta se for levado em conta que a prioridade nacional do PT é eleger Lula e que qualquer apoio será bem-vindo no comitê nacional de campanha, ainda que tisnado por divergências regionais das quais Lula procura fugir como o Diabo foge da Cruz. Azevêdo faz um governo bem avaliado na Paraíba, tem sido firme nas posições contra o governo do presidente Jair Bolsonaro e sinalizou expressamente que toma partido em uma das mais acirradas eleições presidenciais da história brasileira. Veneziano tem que se esforçar porque deseja garantir vaga no segundo turno, em meio a um embolamento sem precedentes na disputa pela segunda colocação. Por isso, o senador emedebista aposta todas as suas fichas em Lula, como se ele tivesse o condão milagroso de transferir votos. As definições estão mais próximas do que se imagina – e, até lá, João vai investir no contato direto com o eleitorado paraibano que, afinal, é quem vai dar o veredicto sobre o ocupante da cadeira no Palácio da Redenção a partir de 2023.