Nonato Guedes
O deputado estadual Luciano Cartaxo teve o seu nome oficializado, ontem, pelo PT, em convenção, como candidato a prefeito de João Pessoa nas eleições de seis de outubro, contando como vice com Amanda Rodrigues, esposa do ex-governador Ricardo Coutinho. Esta é a terceira vez que Cartaxo concorrerá – nas duas anteriores (2012 e 2016) – saiu vitorioso, concorrendo contra candidatas como Estela Bezerra e Cida Ramos, que haviam sido lançadas por Ricardo e eram filiadas ao PSB. Desta feita, Luciano afirma que a chapa representa “o time de Lula” e chega competitiva para vencer a eleição. Ele confia em que o apoio do presidente da República será decisivo, embora, concretamente, João Pessoa não conste da relação de Capitais que a cúpula nacional petista considera como viáveis no pleito deste ano.
O empenho de Luciano Cartaxo será no sentido de polarizar a disputa com o atual prefeito Cícero Lucena, do Progressistas, que tem o apoio do governador João Azevêdo (PSB), aliado de primeira hora do presidente Lula na Paraíba. A eleição na Capital paraibana não reproduz propriamente a polarização nacional lulismo versus bolsonarismo, uma vez que Cícero também é do campo de apoio a Lula, enquanto o verdadeiro candidato do ex-presidente Jair Bolsonaro é o ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que ganhou a indicação no PL após vencer uma queda-de-braço com o comunicador Nilvan Ferreira, que acabou migrando para Santa Rita, onde concorre pelo Republicanos, com chances. Prevê-se, então, que o confronto entre Cartaxo e Cícero será na comparação de gestões empalmadas por ambos em João Pessoa (Lucena contabilizando três, já que foi eleito em 1996 e reeleito em 2000). Pesquisas preliminares que chegaram a ser divulgadas apontaram o atual prefeito na liderança das intenções de voto, reforçado por investimentos e obras em João Pessoa, numa eficiente parceria com a administração de João Azevêdo.
A gestão de Cícero chegou a “claudicar” durante os primeiros meses deste ano, com aparente inação em setores estratégicos de interesse da população pessoense, mas o chefe do executivo municipal demonstrou surpreendente capacidade de reação, fazendo deslanchar um pacote de obras e serviços, abandonando temas polêmicos que desgastavam a sua imagem e partindo para ações ofensivas que tiveram impacto junto a segmentos da opinião pública. Lucena procurou diligenciar, igualmente, no sentido de corrigir falhas e distorções que vinham sendo apontadas por alguns adversários e dispôs de tempo para avançar na execução de metas prometidas. Ainda nos últimos dias empreendeu uma incursão à Espanha para celebrar protocolo com agência de desenvolvimento que implica no carreamento de recursos vultuosos que possibilitarão a deflagração de obras de projeção. Cícero beneficia-se da sua vasta experiência no conhecimento dos gargalos que atravancam a evolução da Capital paraibana, bem como da sua capacidade de equacionar demandas e agilizar soluções reivindicadas. Desse ponto de vista, realiza um governo bem avaliado.
A candidatura de Cartaxo foi a primeira a ser oficializada no cenário pessoense este ano e conseguiu mobilizar apoios dentro do PV, PC do B, Psol e Rede, depois de uma luta titânica de bastidores que ele conduziu, juntamente com o ex-governador Ricardo Coutinho, para retirar esses partidos do campo de sustentação da candidatura do prefeito Cícero Lucena. A própria escolha de Cartaxo deu-se de forma impositiva por parte da cúpula nacional do Partido dos Trabalhadores, que atropelou as pretensões da deputada estadual Cida Ramos de se submeter a prévias internas para a definição da candidatura. Cida argumentava que tinha o apoio da maioria dos expoentes de tendências partidárias, bem como maior identidade com o PT do que Cartaxo, que chegou a abandonar a agremiação a pretexto de não se queimar por ocasião do escândalo nacional do mensalão. O grande patrono de Cartaxo foi, mesmo, Ricardo Coutinho, que dele se reaproximou e ainda logrou indicar o nome da esposa para compor a chapa, mantendo uma tradição de familismo que tem se repetido nas últimas campanhas no PT. Coutinho mira em Cícero para obter uma revanche contra o governador João Azevêdo, com quem rompeu após tê-lo apoiado ao Executivo na campanha de 2018. Mas Cartaxo, se obteve apoios externos, ainda não pacificou internamente o PT. Um exemplo disso é a postura do presidente estadual, Jackson Macedo, que se afastou da campanha em João Pessoa e percorre municípios do interior defendendo as teses petistas.
No discurso em que foi oficializado como candidato do PT à prefeitura, Luciano Cartaxo destacou que pretende priorizar a saúde pública em uma nova gestão, se for o vitorioso. Entre os projetos que cogita implantar está a construção de duas novas Unidades de Pronto Atendimento, bem como a construção de um hospital que seja capaz de desafogar atendimentos no “Trauminha”. Anuncia, ainda, investimentos nas escolas com ensino em tempo integral, ampliação do número de creches, revitalização do Parque da Lagoa e reabertura do Terminal de Integração. “Em suma, um conjunto de propostas para transformar a cidade”, ele se compromete. A grande dúvida que paira é sobre o grau de envolvimento do presidente Lula na campanha de Cartaxo, bem como sobre o potencial do mandatário para transferir votos para candidatos a prefeito.