Nonato Guedes
O presidente Jair Bolsonaro cumpre mais uma agenda oficial na Paraíba hoje, fazendo a entrega da obra Vertente Litorânea, na cidade de Itatuba, na região metropolitana de Campina Grande. É um empreendimento feito em parceria com o governo do Estado e que receberá as águas do Eixo Leste do Projeto de Transposição das Águas do Rio são Francisco, devendo beneficiar 680 mil pessoas em 39 cidades paraibanas. O canal ligará o açude Acauã, no município de Itatuba, ao Brejo paraibano, mais precisamente à cidade de Araçagi e a segunda etapa da obra deve ser inaugurada até o final do ano. O presidente vai, também, a Gurinhém, para entregar uma Unidade de Atenção Básica da Saúde.
A visita de Bolsonaro, na verdade, chama mais a atenção pelo caráter político-eleitoreiro do que pelo eventual impacto administrativo. Em relação a este último ponto, inclusive, já foi desencadeada a polêmica pelos opositores do presidente da República, como o ex-governador Ricardo Coutinho (PT), afirmando que Bolsonaro não colocou um centavo nas Vertentes Litorâneas. “Ele vem pegar carona na obra que teve recursos liberados por Dilma Rousseff”, enfatizou Ricardo, salientando que a primeira etapa da obra foi realizada no seu governo e que as últimas verbas foram liberadas no governo de Michel Temer. Ricardo, que pretende concorrer ao Senado na aliança do PT com o MDB em apoio à candidatura do senador Veneziano Vital do Rêgo ao governo, acusa Bolsonaro de se dedicar à mentira e a “brigar com todo mundo”, além de abusar de fake news com a intenção de tentar desinformar a opinião pública.
Como parte da estratégia pré-eleitoreira de Bolsonaro, na caça aos votos pela reeleição à presidência da República, repete-se na sua nova visita à Paraíba o enredo de agendas anteriores em que apoiadores declarados dele se mobilizam em deslocamento de motos e automóveis de diferentes regiões do Estado, de João Pessoa ao Sertão, para os locais previamente informados da presença do mandatário em palanques improvisados, a céu aberto, nos quais discursam autoridades e políticos em flagrante apologia ao governo federal. É um prolongamento da polarização que foi estabelecida no país entre bolsonaristas e apoiadores/eleitores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), que é eleitor de Lula, mais uma vez vai ignorar a passagem do presidente da República, que terá a acolhida de deputados federais e estaduais, pré-candidatos às próximas eleições, denominados “bolsonaristas-raiz”.
Desta feita, prevê-se que pré-candidatos ligados a Bolsonaro mas até então distanciados dele marquem posição ao lado do presidente, deixando claro o seu engajamento à campanha do capitão, caso, por exemplo, do deputado Efraim Filho, do União Brasil, pré-candidato ao Senado pelo União Brasil, que é da base bolsonarista mas não tem participado de outros eventos já promovidos na Paraíba pelo “staff” do presidente. Efraim concorrerá na aliança com o deputado federal Pedro Cunha Lima, que é pré-candidato ao governo pelo PSDB e que também é anti-Lula no pleito vindouro. Com a perspectiva de acirramento da disputa política na Paraíba, esses pré-candidatos estão se sentindo pressionados a declarar voto para presidente e se integrar ao “staff” bolsonarista, colhendo eventuais dividendos de ações do governo que está aí. Pretendem se juntar, agora, a figuras carimbadas do bolsonarismo no Estado, como o comunicador Nilvan Ferreira, ex-candidato a prefeito de João Pessoa, e o deputado estadual Cabo Gilberto, ambos do PL.
O governo do presidente Jair Bolsonaro não se notabiliza, necessariamente, por um programa eficaz ou por resultados mais visíveis de obras de impacto ou de repercussão. Ganhou apoio com medidas assistenciais como o Auxílio Brasil, que volta a ser moeda corrente em pleno ano eleitoral, e com o enfrentamento à covid-19, a despeito da postura negacionista do presidente da República. Em relação a obras de infraestrutura e de importância, Bolsonaro entrega, na maior parte, resultados de ações que foram começadas em governos anteriores, dentro do seu próprio compromisso de não deixar obra parada no país. Essa estratégia acaba gerando controvérsia sobre paternidade das obras, mas, na definição do ex-ministro Fernando Haddad (PT) o governo do presidente se alimenta da “agitação”, não da realização propriamente dita. Seja como for, a visita do presidente a um Estado do Nordeste é sempre encarada com atenção pelos adversários, diante do risco de Bolsonaro capturar votos entre indecisos. A região é uma espécie de joia da Coroa do ex-presidente Lula, que dispara em percentuais de votos, mas a indefinição por parte de parcelas do eleitorado ainda é preocupante para os adversários.