Nonato Guedes, com agências
Em seu primeiro ato após ser eleito, ontem, presidente da Câmara, o deputado Arthur Lira, do Progressistas-AL, anulou uma decisão do seu antecessor, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e desconsiderou o bloco de apoio ao seu adversário na disputa, Baleia Rossi (MDB-SP). Arthur Lira, apoiado ostensivamente pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e pelo “Centrão”, agrupamento de que é líder, obteve 302 votos contra 135 dados a Baleia Rossi, tendo vencido a eleição em primeiro turno. Na prática, a decisão de desconsiderar o bloco de apoio a Baleia impede que o grupo do emedebista assuma posições na Mesa Diretora, como estava previsto. A eleição para os demais cargos do comando da Casa – dois de vice e quatro secretarias – foi adiada para esta terça-feira, 2.
O ato de Lira ocorreu após Maia aceitar a inclusão do PT no bloco de Baleia mesmo após o fim do prazo, que se encerrou às 12h de ontem. A decisão do agora ex-presidente da Câmara gerou protestos do deputado do Perogressistas, que chegou a bater boca com Maia durante reunião mais cedo e ameaçou judicializar a questão, mas depois recuou. Depois de declarado eleito, o novo presidente informou que vai estabelecer uma pauta emergencial para enfrentar a pandemia do novo coronavírus. Em seu discurso, Lira frisou que irá buscar “pontos mínimos” de convergência com os demais Poderes para ajudar o povo a superar os traumas da pandemia. De pé ao lado da cadeira de presidente da Casa, Arthur disse que não há trono no plenário. “Não me confundo com essa cadeira e jamais irei me confundir”, afirmou. “A cadeira é giratória para que seu ocupante seja capaz de olhar para o centro, para a direita e para a esquerda”.
A eleição do novo presidente se deu após uma disputa marcada por traições, recuos e denúncias de compra de votos. Lira usou seu discurso inaugural para defender ampla vacinação contra a covid-19. Bolsonaro já levantou dúvidas quanto à vacinação e faz questão de frisar que ela não é obrigatória. A conduta do Ministério da Saúde, enquanto isso, é alvo de investigação pelo ministério Público Federal. “Temos que fortalecer a rede de proteção social. Temos que vacinar, vacinar e vacinar o nosso povo. Temos que buscar o equilíbrio das contas públicas e dialogar com o mercado e a sociedade de forma transparente”, pregou o sucessor de Rodrigo Maia. O parlamentar alertou que será necessário “travar debate com os demais poderes de forma transparente e coletiva” e que a pauta não será escolhida somente por ele. A base do governo Bolsonaro, formada principalmente por partidos do Centrão, cobra o restabelecimento do auxílio emergencial, encerrado pelo governo.
Arthur Lira também defendeu reformas econômicas, mas não citou quais defende como prioritárias. “Não cabe ao presidente da Câmara decidir com que velocidade e quais prioridades”, ponderou. “Temos que avançar nas reformas que vem sendo tentadas por diferentes governos, mas no contexto atual são mais urgentes do que nunca”. Ele disse que vai convocar o plenário a decidir quais são os assuntos a serem incluídos na pauta, respeitando a proporcionalidade. O jornal “O Estado de S. Paulo” informou que o presidente Jair Bolsonaro atuou para ter o controle da Câmara e do Senado com receio de sofrer um processo de impeachment no Congresso e de ver seu mandato abreviado. Após passar quase dois anos criticando a “velha política”, Bolsonaro deu uma guinada no discurso de campanha e atropelou adversários ao distribuir recursos e cargos para beneficiar seus candidatos. A ofensiva incluiu o pagamento do volume recorde de emendas parlamentares, em janeiro. Como parte da mesma tática, o gabinete do ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, foi transformado, nos últimos dias, em quartel-general das negociações. O “tratoraço” deu certo com as eleições de Arthur Lira na Câmara e Rodrigo Pacheco no Senado.