Nonato Guedes, com agências
Denunciado, ontem, ao Supremo Tribunal Federal pela Procuradoria-Geral da República, sob acusação de ter recebido propina de empreiteira, segundo a Operação Lava Jato, o deputado federal Arthur Lira, do PP-AL, é um dos principais líderes do chamado “Centrão”, bloco parlamentar informal, com cerca de 200 deputados, do qual o governo Bolsonaro se aproximou. O grupo passou a integrar a base do governo na Câmara e Arthur Lira é apontado como o candidato favorito do presidente Jair Bolsonaro para a sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na presidência da Câmara Federal. Maia luta para ser reconduzido ao posto.
A denúncia do Ministério Público Federal é uma acusação formal feita ao Supremo, a quem caberá analisar se receberá a denúncia. Em caso afirmativo, será instaurada ação penal e o deputado passa à condição de réu. Lira é acusado de corrupção passiva em investigação no âmbito da Operação Lava Jato. Segundo os investigadores, ele teria recebido R$ 1,6 milhão em propina da empreiteira Queiroz Galvão. De acordo com a denúncia, o dinheiro seria pagamento pelo apoio do PP à manutenção de Paulo Roberto Costa na diretoria da Petrobras. Costa foi preso em março de 2014, quando a Lava Jato foi deflagrada. Em nota divulgada, o advogado Pierpaolo Bottini, defensor de Arthur Lira, afirmou que o deputado fez parte de um grupo que afastou Paulo Roberto Costa do partido ao assumir a liderança do PP. Conforme ele, isso motivou “reiteradas tentativas de envolver o parlamentar em ilícitos dos quais não participou”.
De acordo com as investigações, os recursos da empreiteira teriam sido pagos a um assessor do deputado em dinheiro vivo. A investigação não encontrou indícios de que o dinheiro repassado ao parlamentar foi distribuído para outros integrantes do PP investigados no mesmo caso. Assim, o MPF pediu que os fatos sejam arquivados em relação ao senador Ciro Nogueira (PP-PI) e o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE). De acordo com uma reportagem da revista “Veja”, Arthur Lira é um dos poucos que não se importam em ser tachados como membros do Centrão, cuja fama é de barganhar votos em troca de cargos e outras práticas fisiológicas condenáveis. Pelo contrário, ele se orgulha de seu papel como um dos expoentes do bloco. Tornou-se homem de confiança de Bolsonaro, numa hora em que este precisa de uma base para se blindar contra três dezenas de pedidos de impeachment e, ao mesmo tempo, aprovar projetos que podem ser importantes para a retomada econômica.
“Habilidoso, pragmático e conhecedor dos bastidores do Congresso, o deputado está tão cheio de moral que se movimenta para concorrer à presidência da Câmara com o apoio do governo em 2021”, informa a “Veja”. A cessão ao nanico Avante da diretoria do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs) foi um dos primeiros movimentos de sua estratégia eleitoral e irritou alguns correligionários do PP. Dentro da bancada do partido, Lira antagoniza com o deputado Aguinaldo Ribeiro (PB), que seria o preferido de Rodrigo Maia para suceder-lhe caso o atual presidente não possa concorre à reeleição. Arthur Lira foi eleito vereador em Maceió aos 23 anos pelo PFL, emendou dois mandatos na Câmara Municipal e três de deputado estadual até se eleger deputado federal, pela primeira vez, em 2010, pelo PP. Na época em que integrava a cúpula da Assembleia Legislativa, ele foi alvo da Operação Taturana, deflagrada em 2007 contra desvios de 280 milhões de reais na Casa por meio de cheques em nome de laranjas e empréstimos bancários fraudulentos. Na Lava Jato, Lira também foi citado como frequentador do escritório do notório doleiro Alberto Yousseff e ainda é réu em dois processos no STF, um por corrupção passiva e outro por participação no “quadrilhão do PP”.