Nonato Guedes
A subida de 11% para 14% na segunda pesquisa Quaest, divulgada pela TV Cabo Branco, projeta o deputado federal Ruy Carneiro (Podemos) na posição de oponente maior do prefeito Cícero Lucena (PP), líder nas intenções de voto e candidato à reeleição em João Pessoa, ainda que a distância entre os dois seja latente. O atual prefeito, como se sabe, oscilou de nível em relação à primeira pesquisa, feita em agosto, mas manteve-se na frente, com 49% das intenções, além de conservar um expressivo percentual de aprovação à sua gestão. O crescimento do candidato bolsonarista Marcelo Queiroga (PL), ex-ministro da Saúde, de 7% para 11% possibilitou-lhe empatar com o candidato do PT, deputado Luciano Cartaxo, que caiu de 12% para 11% – cristalizando-se, desse ponto de vista, a polarização, para baixo, entre os dois expoentes das duas facções que se digladiam no plano nacional. Não se acredita que haja um avanço mais significativo de Queiroga a ponto de levá-lo para o segundo lugar, mas essa não é uma hipótese fechada, tendo em vista as oscilações que confundem o processo que se desenrola na Capital paraibana.
Com rejeição de 43%, bem abaixo da rejeição atribuída ao petista Luciano Cartaxo, o ex-tucano Ruy Carneiro tem se caracterizado por uma campanha de caráter revanchista contra Cícero Lucena, de cuja administração participou, nos anos 2000, de onde pulou da Casa Civil para ser candidato a prefeito pela primeira vez, sendo derrotado por um fenômeno emergente – Ricardo Coutinho, egresso de movimentos sociais e populares, que mais tarde se consagrou como governador eleito por duas vezes. Aliás, são os “fenômenos” que atropelam a caminhada de Ruy e atrapalham seus projetos, valendo lembrar que em 2020, quando concorreu novamente, ele esbarrou em Nilvan Ferreira, então MDB, ficando a 900 votos do segundo turno, que foi conquistado por Cícero. Ruy é um político que não tem perfil ideológico e que foge das discussões nesse campo, o que faz com que não seja qualificado como um bolsonarista extremista, mesmo que aparente convicções de direita. Ele optou por ter atuação na linha assistencialista, destinando recursos para instituições e fazendo gestões para equacionar demandas de pequeno e médio porte, ligadas a setores específicos da sociedade.
A grande bandeira agitada por Ruy, mais uma vez, em campanha eleitoral, diz respeito ao debate das questões que afetam a população de João Pessoa. Nesse sentido, é insistente na cobrança ao prefeito Cícero Lucena, mesmo quando este concretiza ações que vinham sendo reivindicadas. Costuma apresentar-se como padrinho de iniciativas de interesse público que, muitas vezes, são resultado de atuação conjunta de outros membros da bancada federal paraibana ou de deputados estaduais. O modus operandi de Ruy é centrado na liberação e destinação de recursos provenientes de emendas e no atendimento de emergências do varejo. Isto não quer dizer que não seja um conhecedor profundo dos problemas, inclusive, de infraestrutura, no entorno de João Pessoa. O deputado possui, de fato, uma visão espacial dos problemas comuns e é especialista em denúncias sobre pautas não atendidas ou eventualmente abandonadas pelo poder público. Mas no afã denuncista acaba se perdendo ao persistir na tática oposicionista mesmo quando foi dado encaminhamento ou perspectiva de solução para as carências apontadas.
Ruy é um político midiático, que baseia sua plataforma na busca de fatos que lhe dêem visibilidade, por mais irrelevantes ou inúteis que sejam. Ele deu partida, na deflagração da campanha, a acusações de que estaria sendo impedido de realizar eventos da sua agenda em bairros da periferia pessoense, que estariam dominados por elementos ligados ao tráfico de drogas com a conivência de agentes do poder público. Fez disso um cavalo de batalha e acabou atraindo concorrentes, como o deputado Luciano Cartaxo e o ex-ministro Marcelo Queiroga, para uma entrevista-denúncia de suposto clima de insegurança, como pretexto para reclamar tropas federais ao Tribunal Regional Eleitoral. A presidente da Corte, desembargadora Agamenilde Dias Arruda, contornou o espetáculo advertindo que o tribunal não se atém a narrativas políticas-eleitorais de quem quer que seja e assegurando postura de equilíbrio e isenção no trato da delicada questão da ordem pública no processo eleitoral. O espetáculo montado por Carneiro não produziu a repercussão esperada junto à opinião pública, segundo se deduz do resultado geral da segunda pesquisa Quaest, com a liderança persistente do prefeito Cícero Lucena.
A contribuição do deputado federal Ruy Carneiro na campanha majoritária em João Pessoa é reconhecida até pelos que não apreciam seu estilo de fazer política, dentro da lógica de que ele tem identidade com a Capital e vive os seus problemas. A forma com que atua é que é alvo de polêmica entre setores conservadores que não se consideram refletidos na espetacularização dos fatos políticos. Nesta terceira participação na corrida pela prefeitura de João Pessoa é natural ou legítimo que o deputado Ruy Carneiro aposte fichas num desempenho mais consistente para a sua própria trajetória, o que pode colocá-lo na linha direta de confronto com Cícero Lucena, ainda que não em condições de derrotar este Restará a incógnita sobre projetos políticos futuros de Ruy, na hipótese de não lograr êxito com a estratégia de agressividade que imprime à sua campanha pelo controle da prefeitura pessoense.