Nonato Guedes
Nos meios políticos paraibanos ainda é analisada com cautela a postura do PDT em relação ao governo João Azevêdo (Cidadania) após a decisão de Gustavo Feliciano, filho da vice-governadora Lígia e do deputado federal Damião, de pedir exoneração da secretaria de Turismo e Desenvolvimento Econômico do Estado. Na postagem que divulgou em rede social, a doutora Lígia Feliciano foi enigmática quando afirmou: “Não se trata de um rompimento, porque não brigamos”. Explicou, então, que o filho planeja disputar mandato à Assembleia Legislativa do Estado e que o clã deseja ficar à vontade para avaliar melhor o cenário político e social e, então, se posicionar.
A postura enigmática do clã Feliciano refreou, de certa forma, o ímpeto de forças de oposição que apostavam num rompimento em alto estilo, capaz de afetar a estabilidade do sistema agrupado em torno da liderança do governador João Azevêdo. Não se descartava que Lígia, além de sair atirando, assumisse de plano uma pré-candidatura ao governo do Estado no pleito do próximo ano, hipótese que é cortejada pela cúpula nacional pedetista, conforme antecipou à imprensa paraibana o presidente Carlos Lupi. O “script” até então anunciado previa formação de frente ampla em torno de uma chapa de oposição congregando PDT, PSB, PT e PV. Comentou-se muito nos bastidores a suposta chapa Lígia-Luciano Cartaxo-Ricardo Coutinho, mas pelo menos oficialmente não houve evolução significativa nessa direção.
O que se depreende da fala monossilábica da vice-governadora Lígia Feliciano é que o PDT quer espaços políticos na Paraíba, seguindo a estratégia do diretório nacional para se expandir nas regiões e respaldar o projeto de candidatura do ex-ministro Ciro Gomes à presidência da República, bem como a meta de investir no crescimento de bancadas parlamentares. Mas, ao mesmo tempo, ao não assumir postura de confronto ou de rompimento com o governador Azevêdo, a doutora Lígia passa a impressão de que há espaço para esgotar conversas com o chefe do Executivo sobre ofertas que ele tem a entregar à agremiação no Estado. Na sexta-feira, ao participar de evento literário em Cabedelo, a vice-governadora falou na construção de “uma Paraíba cada vez maior” e no interesse em contribuir para que um futuro brilhante para o Estado e para o seu povo.
Talvez por estar no aguardo de desdobramentos da saída do filho da vice-governadora de secretaria que ocupava na atual administração a oposição tenha se resguardado na expectativa de novos acontecimentos. Em termos concretos, a exoneração do secretário Gustavo Feliciano precipitou a deflagração, dentro do governo estadual, do processo de afastamento de figuras que vão disputar mandatos eletivos em 2022, sendo grande a atenção quanto ao posicionamento do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), cuja mulher, Ana Cláudia, exerce uma secretaria de Articulação e cuja influência está espalhada em outros setores do governo. O processo de desincompatibilização será um divisor de águas para balizar as posições políticas, indicando quem está seguramente com o governador no projeto de recondução e quem não é confiável como aliado nessa caminhada.
Fontes políticas da confiança do governador João Azevêdo disseram ao colunista, durante evento comemorativo pelos 23 anos da revista “Tribuna”, do executivo e jornalista Manoel Raposo, que, para o chefe do Executivo, quanto mais cedo houver uma definição sobre aliados, melhor para seu projeto. “Esse mapeamento é fundamental porque vai aferir o grau de lealdade em sua dimensão verdadeira, separando o joio do trigo”, comentou um deputado estadual que é interlocutor privilegiado da Granja Santana, a respeito do cenário a que se referiu a vice-governadora. Trata-se, no contexto, de definir quem está blefando, quem está fraquejando ou titubeando no apoio à atual administração e, finalmente, quem é aliado autêntico, perfil cobrado dos que irão para a linha de frente expor-se a chuvas e trovoadas, a desgastes de todo o tipo, para defender as cores do esquema que João Azevêdo representa.
Não é possível falar-se em afinidade política ou ideológica mais estreita entre o governador João Azevêdo e a vice-governadora Lígia Feliciano, por mais que a relação institucional entre eles tenha sido respeitosa, até onde se tem conhecimento. Lígia, que havia sido vice de Ricardo Coutinho na campanha à reeleição em 2014, foi mantida no mesmo cargo na chapa encabeçada por João Azevêdo em 2018 depois de uma costura demorada e difícil, que exigiu grande habilidade e concessões para ser viabilizada. Neste segundo mandato, a vice-governadora ainda cumpriu missões delegadas, inclusive de representação do governo da Paraíba no exterior, em contatos para atrair grupos de empresários interessados em investir no Estado. Mas não houve propriamente uma relação calorosa, entre “parceiros”. Na campanha eleitoral de 2020 a prefeito de João Pessoa, o PDT descolou-se do bloco de Azevêdo e integrou chapa de oposição, sendo indicada uma filha do casal Lígia-Damião, Mariana, para vice de Edilma Freire, candidata apoiada por Luciano Cartaxo. Analistas políticos sustentam que foi ali que o clã Feliciano cravou sua autonomia ou independência em relação à liderança do governador – postura que só faz se ampliar com episódios que antecedem a grande batalha das urnas em 2022. A conferir!