O ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega defendeu, em sua coluna na revista Veja, a necessidade urgente de privatização do Banco do Brasil, ressaltando que seriam muitos os benefícios se tal medida ocorresse. O banco seria maior e melhor, conforme o economista paraibano, que começou sua carreira como bancário, no BB, na cidade de Cajazeiras, no sertão paraibano e foi ministro da Fazenda no governo do presidente José Sarney na década de 80. Para ele, o Banco do Brasil perdeu vantagens, mas não o ônus de ser governo.
E lembrou que em abril o BB sofreu uma interferência inusitada da parte do presidente Jair Bolsonaro (PSL), que vetou propaganda exibindo a interação de diversas pessoas, clientes potenciais, com o mundo virtual. Além de causar perda financeira, tal interferência sacrificou o objetivo de influir no segmento dos jovens, que cresce velozmente, opina Maílson, observando que Bolsonaro demonstrou uma interpretação canhestra do seu poder, quando declarou naquele episódio: Quem indica e nomeia o presidente do Banco do Brasil não sou eu? Não precisa falar mais nada, então. A lei, de acordo com o economista paraibano, veda esse tipo de intromissão nas empresas estatais e a intervenção do presidente realçou quanto o BB perde por ser controlado pelo governo. Hoje, nada a não ser visões obsoletas e anticapitalistas justifica que ele seja parte do Estado, acrescenta.
Maílson recorda que a criação do Banco do Brasil, após a chegada da família real ao país em 1808, inspirou-se no modelo do Banco da Inglaterra, então controlado por capitais privados e com poder de emissão baseado em um lastro. Destinava-se a suprir de moedas a praça do Rio de Janeiro, em rápida expansão na época. O Banco do Brasil faliu conforme ele quando dom João VI retornou a Portugal e subtraiu o lastro em ouro da colônia. A segunda versão (1853) nasceu da junção do BB do Barão de Mauá com o Banco Comercial do Rio de Janeiro. A terceira e atual, datada de 1905, surgiu de fusão em meio a uma crise bancária, quando o controle foi transferido para o governo. O Banco do Brasil virou empresa estatal.
– O período glorioso prossegue Maílson da Nóbrega iniciou-se com a carteira de redescontos, em 1921, que permitiu a negociação dos seus próprios créditos. A partir dos anos 1930 surgiram a carteira de crédito agrícola e industrial e a de comércio exterior. Até a criação do Banco Central, em 1964, o Banco do Brasil exerceu funções que caberiam ao Banco Central nas áreas cambial, de fiscalização bancária e de depósitos compulsórios de bancos. O ápice desse processo ocorreu entre 1965 e 1986. O Banco do Brasil expandiu vigorosamente o crédito, mediante saques ilimitados na conta de movimento do Banco Central, a qual era insustentável e, assim, foi extinta depois de 21 anos. Foi, então, autorizado a exercer todas as funções de um banco comercial. Superou o desafio de sobreviver na nova realidade. Reestruturou-se, formou quadros de alto nível, investiu em tecnologia e criou subsidiárias para atuar no mercado financeiro e de capitais. Tornou-se competitivo.
O ex-ministro adverte que o BB perdeu os benefícios da conta de movimento mas manteve o ônus de ser estatal. Tem sede em Brasília, o que não faz sentido, muda frequentemente de administração e submete-se à fiscalização do Tribunal de Contas, bem como às complexas e limitantes regras de concorrência pública. Está, enfim, sujeito a normas que limitam a capacidade de remunerar adequadamente seus talentos, e assim por diante. Tudo isso impõe custos inexistentes nos pares do mercado financeiro, inibindo o seu desenvolvimento e a necessidade de constante modernização. E arremata Maílson da Nóbrega: O Banco do Brasil teria muitos benefícios se fosse privatizado. Seria maior e melhor. Infelizmente, a maioria da sociedade e de políticos ultrapassados continua prisioneira de visões de antanho. Uma pena.
Nonato Guedes