Vamos acabar com a farra dos marajás. Com esta senha, o candidato a presidente da República Jair Bolsonaro, do PSL, que disputa o segundo turno das eleições com Fernando Haddad (PT) recriou um slogan que foi adotado pelo senador Fernando Collor de Mello quando governador de Alagoas, na década de 90, e que serviu para alavancar a candidatura de Collor ao Planalto em 89. Na eleição, em que concorreram inúmeros candidatos, inclusive, pesos-pesados da política brasileira, Collor venceu Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno. Fez um início de governo tumultuado, marcado por denúncias de corrupção, tendo sofrido processo de impeachment que o afastou do cargo em 92.
Collor atritou-se, à frente do governo de Alagoas, com funcionários públicos privilegiados que ganhavam super-salários e que ele apelidou de marajás. Acionou a Justiça para bloquear os valores salariais pagos, teve êxitos parciais mas bateu de frente com direitos adquiridos que não podiam ser retirados, conforme cláusula pétrea da Constituição invocando que a lei não pode retroagir para prejudicar ninguém. A batalha de Collor deu-lhe visibilidade na mídia nacional, com capas de revistas como Veja e ele passou a dispor de cacife para concorrer à presidência da República na primeira eleição direta pós-regime militar. No segundo turno, contra Lula, Fernando Affonso Collor de Mello, um carioca com raízes familiares oligárquicas em Alagoas, na região Nordeste, foi eleito com 34.089.998 votos contra 31.076.364 de Lula.
Um dia após assumir a presidência da República, em 15 de março de 1990, Collor decretou o confisco de todas as contas correntes e de poupança com valores superiores a 50 dólares. Idealizado pela ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, o Plano Collor determinava a extinção do cruzado, retomada do cruzeiro, venda de empresas públicas, demissão de milhares de funcionários públicos, extinção de ministérios, autarquias e fundações e redução das restrições à importação. O objetivo principal era enxugara liquidez e combater a inflação. Um ano e meio depois, o dinheiro confiscado começou a ser devolvido e o Plano Collor não atingiu suas finalidades: a inflação voltou e a economia entrou em recessão. A insatisfação da sociedade e as denúncias de Pedro Collor, irmão do presidente, sobre corrupção entre altos funcionários, ministros e o próprio presidente, dentro do esquema PC Farias enfraqueceram o governo, motivaram a instalação de uma CPI. Para evitar a perda de direitos políticos, Collor renunciou três dias depois da aprovação do relatório indicando a abertura do processo de impedimento. Mesmo com a renúncia de Collor, a Câmara continuou o processo e tornou o ex-presidente inelegível. Collor passou uma longo temporada nos Estados Unidos. Ao retornar, retomou a atividade política e empresarial, elegendo-se senador. Este ano, tentou sair candidato a presidente mas o PTC, partido a que é filiado, negou-lhe indicação, alegando que a prioridade era investir em eleições proporcionais. Collor partiu para tentar disputar o governo de Alagoas mas foi novamente barrado, ficando fora da disputa. Ele está citado em inquéritos da Operação Lava-Jato e está fadado a responder a inquéritos sem o foro privilegiado.
Nonato Guedes