O mundo despede-se de uma das figuras mais influentes da história recente da Igreja Católica: Papa Francisco. Falecido após mais de uma década à frente do papado, Jorge Mario Bergoglio deixa um legado que transcende os limites da religião, tocando profundamente a sociedade contemporânea e redesenhando o papel da Igreja no século XXI.
Ao ser eleito em 2013, Francisco marcou um ponto de inflexão histórico: foi o primeiro papa oriundo das Américas, o primeiro jesuíta a ocupar o trono de Pedro e o primeiro a adotar o nome “Francisco”, em homenagem a São Francisco de Assis — símbolo de humildade, cuidado com os pobres e respeito pela criação. Desde os primeiros gestos, demonstrou que seu pontificado seria diferente: recusou a tradicional residência papal, optou por viver com simplicidade e enfatizou um estilo pastoral próximo do povo.
Inspirado pelo conceito de uma “Igreja em saída”, Francisco defendeu uma instituição missionária, menos autorreferencial e mais engajada com os sofrimentos do mundo. Foi um papa que desafiou estruturas internas e rompeu com formalismos, pregando uma Igreja que acolhe em vez de julgar, que escuta em vez de impor.
Sua exortação apostólica Evangelii Gaudium tornou-se um marco do pensamento contemporâneo da Igreja, propondo uma evangelização viva, alegre e comprometida com as realidades sociais.
Francisco fez do seu pontificado uma plataforma para temas urgentes: justiça social, migração, mudança climática, paz mundial e ética econômica. Com a encíclica Laudato Si’, consolidou-se como uma das principais vozes globais na defesa do meio ambiente, destacando o cuidado com a “Casa Comum” como uma questão espiritual e moral.
Ele também se destacou pelo compromisso com os pobres, opondo-se a uma “economia que mata” e propondo uma nova ética centrada no ser humano e na solidariedade.
O pontificado de Francisco foi marcado por avanços significativos no diálogo com outras religiões. Encontrou-se com líderes muçulmanos, judeus, ortodoxos e de outras denominações cristãs, promovendo uma cultura de paz e entendimento. Seu encontro histórico com o grande imã de Al-Azhar e a assinatura do “Documento sobre a Fraternidade Humana” foram passos concretos rumo a uma convivência mais harmoniosa entre diferentes crenças.
Francisco também enfrentou resistências internas, especialmente ao promover reformas na Cúria Romana, abordar com transparência os casos de abusos e propor uma visão mais pastoral para temas como homossexualidade, divórcio e acesso aos sacramentos.
Seu estilo direto e suas posições progressistas geraram tensões com setores mais conservadores, mas também reacenderam a esperança entre muitos católicos afastados da Igreja, especialmente os jovens, as mulheres e os pobres.
Papa Francisco será lembrado como o pontífice da misericórdia, da escuta e da ternura. Seu gesto de ajoelhar-se diante de líderes africanos pedindo paz, suas visitas a campos de refugiados, suas palavras em defesa dos últimos da sociedade — tudo isso compõe a memória viva de um líder que compreendeu a grandeza de sua missão a partir da pequenez dos gestos.
Mais do que um reformador, foi um pastor. E sua herança é um chamado contínuo para que a Igreja não apenas pregue o Evangelho, mas o viva nas periferias, nas dores do mundo, nas alegrias simples da humanidade.