Nonato Guedes
Batizado nas urnas em alto estilo na campanha de 2024 quando concorreu à prefeitura de João Pessoa no papel de neófito e logrou avançar para o segundo turno, polarizando a disputa com o prefeito Cícero Lucena (PP), que acabou sendo reeleito, o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga já sinalizou esta semana, em declarações a emissoras de rádio, preparativos para sua atuação na eleição de 2026 juntamente com seu grupo, que reúne expressões do PL como os deputados Cabo Gilberto Silva, Wellington Roberto e Walbber Virgolino e aliados de outros partidos, como o pastor Sérgio Queiroz, do Novo. O ex-ministro reafirmou seu alinhamento com o ex-presidente Jair Bolsonaro no campo das forças de direita e com opositores do esquema liderado pelo governador João Azevêdo (PSB), que é um dos aliados do governo do presidente Lula da Silva na Paraíba. Não está definido ou pelo menos anunciado o posto a que Queiroga poderá concorrer, mas ele admite formar com outros expoentes da oposição, a exemplo do senador Efraim Filho (União Brasil) que precipitou o lançamento de candidatura ao governo.
Queiroga fazia parte, em 2022, da quota de auxiliares do primeiro escalão que o então presidente Bolsonaro idealizava lançar na política – e é certo que alguns ex-ministros foram bafejados pela onda bolsonarista remanescente, em disputas ao Senado, como Damares Alves, ou ao Executivo, como Tarcísio de Freitas, eleito governador de São Paulo. Mas, talvez por não ter militância política em seu histórico na Paraíba, seu Estado de origem, Marcelo Queiroga preferiu permanecer no cargo e tentar colaborar com a gestão, apostando fichas, também, na possibilidade de reeleição do presidente, o que não se concretizou, quebrando uma tradição do período de governantes reconduzidos aos mandatos. No vácuo da decaída política de seu chefe – que, inclusive, passou a enfrentar problemas judiciais e a ameaça confirmada da inelegibilidade – Queiroga articulou-se para sair candidato a prefeito da Capital paraibana como representante bolsonarista, aproveitando-se, também, do fato de que o ex-bolsonarista Nilvan Ferreira havia migrado para candidatar-se a prefeito em Santa Rita, aliançado com o esquema do governador João Azevêdo, em guinada espetacular na crônica política paraibana.
O resultado alcançado pelo ex-ministro na disputa eleitoral não deixou de ser surpreendente, até porque, em João Pessoa, a polarização ideológica entre lulistas e bolsonaristas não funcionou. A Capital viveu uma temporada eleitoral atípica, com o prefeito Cícero Lucena, de centro mas aliado do governador, concorrendo a um novo mandato com amplas chances enquanto o candidato do PT, deputado estadual Luciano Cartaxo, foi despachado pelo eleitorado para o quarto lugar do páreo, abaixo, ainda, do deputado federal Ruy Carneiro, que fez sua terceira tentativa pela legenda do Podemos. Ainda assim, em meio a esse cenário atabalhoado, Marcelo Queiroga conseguiu identificar-se como legítimo expoente do ideário bolsonarista, atraindo fatias expressivas do eleitorado. No segundo turno, situou-se a uma boa distância de Cícero Lucena, que liderou as pesquisas, da primeira à última, mas inegavelmente saiu com cacife valioso para novas empreitadas, superando a fase de desconhecimento e até resistências por parte de atores ou agentes políticos da atual realidade dominante no Estado.
Pela facilidade de expressão com que se comunicou com segmentos mais à direita do eleitorado pessoense, Marcelo Queiroga converteu-se em quadro promissor para a evolução da conjuntura política, tendo seu nome cogitado quer para ser candidato ao governo do Estado, quer para disputar uma vaga ao Senado ou na Câmara dos Deputados. Aparentemente, Queiroga inclina-se por esta última opção, diante da dificuldade que teria de mobilizar uma frente ampla no campo da direita para apoiar uma eventual candidatura e diante, igualmente, de lançamentos precipitados por parte de outros interessados no Palácio da Redenção. O senador Efraim Filho, que tenta substituir o ex-deputado Pedro Cunha Lima (PSDB) como candidato, admitiu em entrevistas que a oposição a João Azevêdo poderia partir com duas candidaturas ao governo em 2026. No PL, cogita-se que o nome do deputado Cabo Gilberto possa estar entre os cotados do páreo. Sérgio Queiroz poderia, novamente, concorrer ao Senado (ele foi o mais votado a esse mandato em 2022 na Capital) ou encabeçar a chapa ao Executivo. Queiroga se limitaria ao campo do Parlamento.
Em princípio, o que há de concreto, da parte do ex-ministro Marcelo Queiroga, é o seu estado de ânimo receptivo a continuar na militância política-partidária, tendo em vista a condição de fenômeno em que figurou na cena política da Paraíba e a perspectiva de uma carreira promissora que, até então, não estava nos seus cálculos. Detentor, hoje, de um considerável capital eleitoral, centrado em João Pessoa, o ex-titular da Saúde de Bolsonaro sabe que não poderá ser ignorado nas composições que serão tecidas para o pleito de 2026, quando o governador João Azevêdo estará concluindo a segunda gestão – mas, em paralelo, tem consciência de que precisa dividir espaços com outras forças que atuam há mais tempo na conjuntura local. De Queiroga, como de outros expoentes da direita e da oposição a Azevêdo, exige-se postura de habilidade, o que passaria por ensaio de unidade, sob pena de comprometimento de um projeto de poder devido a manobras de dispersão ou táticas de divisionismo que forem, por acaso, encenadas no território em que atuam politicamente.