O economista paraibano Maílson da Nóbrega, que foi ministro da Fazenda no governo José Sarney, na década de 80, afirmou em seu blog na revista “Veja” que o Partido dos Trabalhadores (PT) não se saiu muito bem das eleições municipais deste ano e alertou que isso pode sugerir a necessidade de uma renovação de suas lideranças, bem como o abandono de ideias econômicas qualificadas por Maílson como “carcomidas”.
– Nas cidades em que 40% dos eleitores são beneficiários do Bolsa Família, que eram fontes seguras de votos, o partido não elegeu um só prefeito e pesquisas indicam que antigos apoiadores almejam empreender ou ter um emprego formal, e não depender do apoio direto do Estado – assinalou Maílson.
Sócio da consultoria “Tendências”, Maílson da Nóbrega revela que o PT poderia estudar com interesse os posicionamentos e experimentos de partidos de esquerda europeus. “No seu início, no século XX, deles defendiam a ditadura do proletariado e o controle estatal dos meios de produção. Começando na Alemanha, essas agremiações passaram a buscar o poder pelo voto e não por uma revolução comunista como a de 1917 que criou a União Soviética. Uns poucos partidos incluíram nos seus estatutos o objetivo de estatização total. Foram os casos de facções da Espanha e do Reino Unido”, ponderou Maílson.
Acrescenta o ex-ministro: “No pós-guerra, as transformações econômicas e sociais da Europa na esteira dos 30 anos Gloriosos criaram o ambiente favorável à revisão das propostas e dos dogmas econômicos da esquerda. Uma delas foi o crescimento do setor serviços e a correspondente queda da participação do contingente de trabalhadores da indústria na força de trabalho, que eram a base de votos dos partidos de esquerda. Com o tempo e muitos debates internos, a nova realidade se impôs. A esquerda modernizou o pensamento econômico e consagrou, em seu ideário, a democracia e a economia de mercado sob regulação do Estado”.
Maílson comentou a declaração da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, contra o atual presidente do Banco Central, quando pontuou: “Foram dois anos de sabotagem do bolsonarista Campos Neto, a serviço de quem o colocou lá”. E arremata Maílson: “É provável que não seja maldade, mas pura desinformação, o que pode gerar crenças em ideias econômicas equivocadas. O PY tem mostrado que pensa como sua líder e desde que nasceu, em 1980, professa visões anticapitalistas. Acusa o Banco Central de estar a serviço de bancos e acredita que o gasto público é a fonte básica do crescimento, quando na verdade a fonte é a produtividade. Mencionando a frase de Gleisi Hoffmann de que “gasto é vida”, Maílson da Nóbrega ressalta que o Partido dos Trabalhadores precisa, com urgência, de se reciclar nas ideias e propostas, sob pena de ficar desajustado à realidade brasileira.