Nonato Guedes
A guerra fratricida que era aguardada dentro do Partido dos Trabalhadores em João Pessoa rebentou, tendo como pano de fundo a realização de prévias para escolha de candidatura a prefeito em outubro próximo. Na sexta-feira, os grupos do deputado estadual Luciano Cartaxo e do deputado federal Luiz Couto boicotaram reunião do diretório municipal, insurgindo-se contra as prévias e defendendo que a indicação do nome venha de cima, isto é, do diretório nacional. Com isso, a presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, está sendo convocada a arbitrar o impasse e apagar o fogo antes que ele tome proporções maiores no âmbito da legenda. Luciano Cartaxo disputa a indicação com a deputada estadual Cida Ramos e passou a radicalizar posições desde que tendências expressivas do petismo local manifestaram apoio à sua colega. Cartaxo tem agido como insubmisso, operando nos bastidores para tumultuar o processo.
Luiz Couto é ligado ao ex-governador Ricardo Coutinho, atualmente radicado em Brasília, cujo grupo estaria preparando uma alternativa para concorrer nas prévias internas, segundo versões. Diante do clima de tensão e de tumulto que tem se registrado, 17 integrantes do diretório municipal petista estão convocando junto ao presidente, Marcos Túlio, uma reunião para terça-feira às 18h, constando na pauta o calendário das prévias internas para definição de candidatura às eleições na Capital. Em paralelo, a presidente Gleisi Hoffmann convocou reunião, para a próxima semana, com os pré-candidatos Luciano Cartaxo e Cida Ramos, com o deputado federal Luiz Couto e com os presidentes do PT na Capital e, no Estado, Jackson Macedo, em Brasília. Macedo qualificou como gravíssimo o boicote promovido pelos grupos de Luciano e Luiz Couto à reunião do diretório municipal, denunciando “total desrespeito” às regras estatutárias do Partido dos Trabalhadores e descompromisso com a legenda por parte de alguns filiados que têm influência.
Textualmente, Jackson Macedo enfatizou: “É única e exclusivamente um projeto pessoal, personalista, que desrespeita e não reconhece a instância partidária”. A reunião de sexta-feira, conforme seu relato, era do conhecimento da direção nacional do PT e preconizava, além da definição do calendário de realização das prévias, agendas para a segunda quinzena deste mês com a escolha do candidato que representará as cores petistas no pleito à sucessão de Cícero Lucena, do PP. Cartaxo assegura que com seu comportamento procura zelar pela democracia nas fileiras da agremiação, mas ele é acusado de querer vencer no tapetão e se impor como candidato ungido. Essa visão tem sido reforçada pelas suas declarações de que tem experiência administrativa por ter sido prefeito da Capital em duas vezes consecutivas e pela tese de que não basta ganhar apenas dentro do partido, mas, sim, ampliar os apoios externos e garantir respaldo junto a segmentos da sociedade. Na sua opinião, a deputada Cida Ramos não tem sintonia com a voz das ruas, o que já foi contestado, com veemência, pela parlamentar, lembrando sua votação expressiva para a Assembleia Legislativa na Capital paraibana.
Cartaxo também foi acusado pela própria Cida Ramos de “violência política” ou “violência de gênero”, o que motivou um posicionamento de repúdio por parte do agrupamento nacional feminino do Partido dos Trabalhadores, que se solidarizou prontamente com a deputada e reconheceu a luta por ela desenvolvida em articulação com movimentos sociais baseados em João Pessoa. As informações sobre a crise interna no PT de João Pessoa têm sido repassadas diretamente a Brasília, que acompanha com preocupação os desdobramentos. A deputada Gleisi Hoffmann prepara-se para intervir com vistas a mediar uma solução que não prejudique a legenda. Na prática, o ambiente de autofagia que se desenrola dentro do PT de João Pessoa e que, por assim dizer, é uma tradição incorporada à atuação do partido, já provocou o adiamento da realização das prévias internas, que teriam efetividade no início de janeiro e que até o momento não têm confirmação de sua realização.
O histórico do Partido dos Trabalhadores, tanto na Paraíba como, principalmente, em João Pessoa, é pontuado por “rachas”, dissidências abertas, contestações e viradas de mesa no processo preliminar de indicação de candidaturas e mesmo após isto, no desdobramento da campanha a céu aberto uma vez definidos postulantes. Em 2020, a situação envolveu posicionamentos contraditórios até de líderes estaduais e nacionais de projeção. Naquele pleito, o diretório municipal oficializou a candidatura do então deputado estadual Anísio Maia a prefeito, mas num movimento espetacular o ex-governador Ricardo Coutinho, que estava filiado ao PSB e concorreu por essa legenda, atraiu para seu Guia Eleitoral o apoio do então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi uma retribuição de Lula a Ricardo pelo apoio que este lhe deu quando esteve preso na superintendência da Polícia Federal em Curitiba, mas nem essa manifestação foi suficiente para alavancar o projeto do ex-governador, que sequer avançou para um segundo turno. Agora dentro do PT, pelo qual concorreu ao Senado em 2022 e foi derrotado, Ricardo tenta influenciar decisões por controle remoto, de Brasília. Nesse contexto, teses agitadas com tanta ênfase como realização de prévias e lançamento de candidatura própria vão se tornando complicadas e indefinidas na barulhenta seção paraibana do Partido dos Trabalhadores.