Nonato Guedes
As projeções preliminares de intenções de voto para a disputa à prefeitura de João Pessoa no ano que se inicia comprovam tendências informais apuradas aleatoriamente no meio da rua, ou seja, a liderança do prefeito Cícero Lucena (Progressistas), que é candidato à reeleição com o apoio do governador João Azevêdo, e o “embolamento” entre o deputado federal Ruy Carneiro (Podemos) e o comunicador Nilvan Ferreira no páreo pela segunda vaga, acrescidos do deputado estadual Luciano Cartaxo (PT). Estes três estão tecnicamente empatados na pesquisa estimulada realizada pelo Instituto Opinião, de Campina Grande, contratado pela “Rede Mais”. Cícero desponta com folga – cerca de 33,3% das intenções de voto, Ruy tem 14,5$, Nilvan – 13,6% e Cartaxo 12,3%. Dentro da margem de erro, Ruy, Nilvan e Luciano estão muito próximos nos percentuais, sendo inevitável o descolamento no curso da campanha propriamente dita.
Em relação ao prefeito Cícero Lucena, cabe destacar que em períodos alternados de 2023 ele experimentou oscilações na preferência do eleitorado para o projeto de candidatura a um novo mandato. Chegou a preocupar os aliados mais próximos quando foi alvo de bombardeio dos adversários, que se aproveitaram de temas polêmicos agitados por ele, a exemplo da engorda da orla marítima, proposta sobre a qual recuou ao pressentir dores de cabeça, falta de consenso imediato e, principalmente, de um debate mais amplo com segmentos da própria sociedade que têm interesse direto na problemática. Lucena, então, retirou de pauta a questão da engorda, como também esvaziou outras alterações ligadas ao desenvolvimento urbanístico da Capital. No contraponto, ganhou fôlego quando focou atenções na revitalização do Centro Histórico de João Pessoa, atraindo apoio de Poderes como a Câmara Municipal, a Assembleia Legislativa, o governo do Estado, representantes do empresariado e do setor cultural. A mudança de rota ou de enfoque nas prioridades em pauta possibilitou uma guinada no discurso de Lucena para a reeleição e, ao mesmo tempo, envolveu a participação de movimentos sociais que estavam dispersos ou indiferentes às questões mais urgentes.
Para analistas políticos, esses movimentos do prefeito Cícero Lucena evidenciaram claramente a sua capacidade de recuperação diante dos desafios com que é confrontado numa cidade metropolitana que se prepara para o milhão de habitantes. Em paralelo, registre-se a colaboração eficaz que a administração estadual, dirigida por João Azevêdo, passou a oferecer à administração municipal, dentro da linha de sintonia fina que vem sendo perseguida desde as vitórias de João Azevêdo e do próprio Cícero Lucena, sacramentando entrosamento poucas vezes registrado na história recente do poder público na Capital de todos os paraibanos. A parceria agora consolidada permite que o Estado promova intervenções importantes e de repercussão em áreas onde o alcance do executivo municipal não chega por limitações constitucionais óbvias, e, no reverso da medalha, abre todo um cenário de possibilidades para intervenções por parte da prefeitura nas áreas e nas obras que se situam dentro da sua alçada ou da competência específica. Até que se evoluísse para esse grau de intercâmbio, houve muito bate-cabeça, mas também houve bastante diálogo, em cima de ideias viáveis e do roteiro fundamental para fazer João Pessoa crescer.
Da parte dos adversários de Cícero, que apostaram tanto no seu desgaste e no sonho de vê-lo chegar em 2024 com a língua de fora, deu-se que alguns deles acabaram enredados em problemas logísticos para firmar suas próprias pretensões de candidatura, estando, ainda hoje, convivendo com indefinições que geram especulações e instabilidade no ponto de vista do eleitorado. Nilvan Ferreira, por exemplo, acusou o golpe da falta de espaço dentro do PL diante da imposição do nome do ex-ministro de Saúde, Marcelo Queiroga, com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro e das cúpulas nacional e estadual, tendo fechado o ano em busca de outro partido onde se acomodar juntamente com aliados como o deputado federal Cabo Gilberto Silva e o deputado estadual Walbber Virgolino. Queiroga não dá sinais de avanço no cenário, tendo despontado com 3,1% da preferência dos eleitores, a última colocação na pesquisa do Instituto Opinião. Ele aposta fichas na participação de Bolsonaro no seu palanque, o que ainda não está definido e nem impedirá, talvez, que Nilvan Ferreira, mesmo em outra legenda, possa propagandear o ideário bolsonarista como estratégia para atrair apoios junto aos remanescentes do ex-mandatário que não conseguiu se reeleger para a Presidência da República nas eleições de 2022. Ou seja, a direita vai franca e irreversivelmente dividida para a eleição a prefeito de João Pessoa neste ano.
Luciano Cartaxo está na dependência não só da melhoria dos percentuais de intenção de voto, como da própria garantia de sua candidatura a prefeito de João Pessoa pelo Partido dos Trabalhadores. Ele disputa a indicação, sobretudo, com a deputada estadual Cida Ramos, depois que o quadro se afunilou internamente, com a retirada de pré-postulantes que não tinham chance nenhuma de avançar na corrida eleitoral. São problemas que desafogam, de certa forma, o prefeito Cícero Lucena, que também lidera a pesquisa no levantamento espontâneo, mencionado por 20% dos eleitores. O ano eleitoral propriamente dito na Capital paraibana se inicia sob esses eflúvios, pairando no ar a expectativa quanto a supostas reviravoltas, que, pelo menos por enquanto, constituem incógnita absoluta para os analistas políticos.
Nonato desenha com autoridade o mapa eleitoral da Paraíba. Seus comentários carregam inteligência, perícia, competência e habilidade. Tem sido assim desde tempos remotos. Não há como o cidadão comum opinar sobre o noticiário político sem antes consultar esse notável cajazeirense. Vida longa Nonato. Feliz 2024.