Com uma ampla gama de apoios que vai do PT ao bolsonarismo, o deputado Arthur Lira (PP-AL) foi reeleito presidente da Câmara Federal com a maior votação da história da Casa. Ele teve 464 votos contra 21 de Chico Alencar (PSOL-RJ) e 19 de Marcel Van Hattem (Novo-RS). Lira articulou sua reeleição antes mesmo do resultado da eleição presidencial, que terminou com a vitória de Lula (PT) sobre Jair Bolsonaro (PL) – ele era um dos aliados mais próximos do ex-presidente. Os 464 votos de Lira superaram com sobras o recorde anterior na eleição para o comando da Câmara: Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), presidente em 1991 e 1992, e João Paulo (PT-SP), 2003 e 2004, tinham até então as vitórias mais folgadas, tendo ambos obtido o apoio de 434 parlamentares.
Após a vitória, Lira foi cercado por dezenas de deputados do Centrão ao assumir novamente a cadeira de presidente da Câmara. Chamou atenção que parlamentares do PT ou próximos ao governo Lula não tiveram a mesma atitude, assim como bolsonaristas raiz. Mesmo tendo sofrido um revés importante ao ver o STF considerar o orçamento secreto ilegal, Lira manteve sua força e não teve nenhum candidato com musculatura como adversário. Pesou para isso o fato de ter sido a primeira autoridade a reconhecer a vitória de Lula, ainda na noite de 30 de outubro. Com o gesto, pavimentou o caminho para uma aliança com o atual governo, mesmo com as trocas de farpas com Lula durante a campanha eleitoral.
O chefe da Câmara pediu o suporte de Lula em troca de ajuda na aprovação da PEC da Transição para manter o pagamento de R$ 600 do Bolsa Família, uma das principais promessas do petista durante a campanha eleitoral. A articulação também envolveu benesses para os deputados. Na semana passada, o alagoano fez gestos de aceno aos membros da Câmara para conseguir apoio. Ele concedeu aos colegas o dobro do valor do auxílio-moradia, reajuste na verba para gasolina e mais gastos com passagens aéreas. Além de Lira, foram eleitos Marcos Pereira (Republicanos) para a primeira vice-presidência, Sóstenes Cavalcanti (PL) para a segunda e Luciano Bivar (União Brasil) para a primeira secretaria. Após a vitória, Lira condenou atos golpistas e prometeu agir contra quem atentar contra democracia.
“Neste Brasil não há mais espaço para aqueles que atentam contra os Poderes que simbolizam nossa democracia. Esta Casa não acolherá, defenderá ou referenderá nenhum ato, discurso ou manifestação que atente contra a democracia. Quem assim atuar, terá a repulsa deste Parlamento, a rejeição do povo brasileiro e os rigores da lei. Para aqueles que depredaram, vandalizaram e envergonharam o povo brasileiro haverá o rigor da lei. Antes da votação, Lira afirmou querer um pacto com os demais Poderes. “Quero estabelecer com o Poder Executivo não uma relação de subordinação, mas de um pacto para aprimorar e avançar nas políticas públicas a partir da escuta cuidadosa e de sugestões das nossas comissões”.