Nonato Guedes
Mais do que tentar interferir no processo da eleição da Mesa da Assembleia Legislativa da Paraíba para os futuros dois biênios, o papel do governador João Azevêdo (PSB) será o de tentar evitar conflitos no entorno da sua base política-parlamentar que venham a produzir tessnsões com potencial para desagregar a bancada situacionista que irá se investir em 2023. Recém-saído de uma dura campanha eleitoral, que o levou ao segundo turno contra o deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), João está atento à movimentação de bastidores que ocorre em conversas informais e considera legítimas algumas ambições postas na mesa por correligionários do seu esquema, mantendo a expectativa, porém, de que os próprios deputados construam consensos indispensáveis.
De acordo com informações repassadas à imprensa, o Republicanos, que abriu mão de indicar nomes para a chapa majoritária de João à reeleição, prepara-se para apresentar candidaturas à presidência da Casa de Epitácio Pessoa nos dois biênios. Esse é um ponto inegociável para o partido presidido pelo deputado federal Hugo Motta, que honrou o compromisso com a reeleição do governador João Azevêdo, cedeu espaços para o PP na chapa majoritária e deixou claro com antecedência seu próprio projeto de poder para futuras disputas no Estado. A luta para controlar a Mesa da Assembleia é a primeira batalha, devendo se estender pela ocupação de secretarias e outras pastas estratégicas no segundo mandato empalmado por João Azevêdo. Lá na frente, em 2024, o Republicanos tentará eleger bancadas expressivas de prefeitos e vereadores em municípios-pólos do Estado e espera deslanchar com candidaturas a postos majoritários estaduais – Senado e o próprio governo do Estado – nas eleições de 2026.
Este é um planejamento tático que ganhou corpo na campanha eleitoral de 2022, a partir de avaliações constantes entre expoentes do Republicanos sobre as possibilidades abertas para a legenda na realidade paraibana. O protagonismo nos quadros de poder locais é uma aspiração latente entre os integrantes da legenda, que tem chances de vir a ser fortalecida com adesões de parlamentares recém-eleitos por outros partidos. Independente de reforços, o Republicanos já contabiliza a eleição de oito deputados estaduais e de três deputados federais. É uma agremiação que busca valorizar seus quadros, de que é exemplo o rodízio já anunciado para que no próximo ano o suplente de deputado federal Raniery Paulino possa ascender à titularidade na Câmara. Além de Hugo Motta e Wilson Santiago, o Republicanos elegeu Murilo Galdino à Câmara, e Raniery, que migrou do MDB, obteve posição eleitoral de destaque mas empacou na primeira suplência, podendo avançar dentro da estratégia de acomodação que está sendo montada.
No que diz respeito à futura presidência da Assembleia Legislativa, o atual dirigente Adriano Galdino já fez um movimento com vistas a pleitear novamente o comando da Casa no segundo biênio. O primeiro biênio estaria disponível, então, para acertos entre os deputados estaduais reeleitos Wilson Filho e Athaydes (Branco) Mendes. A situação tem se complicado diante da persistência do deputado Tião Gomes, do PSB, em postular a presidência, alegando ter sido preterido em outras ocasiões. A perspectiva de impasse tem feito com que outros nomes de deputados entrem no rol das cogitações, a exemplo de Eduardo Carneiro, mas há uma força-tarefa operando ativamente nos bastidores para conciliar pretensões e evitar que o processo descambe para confrontos que tragam surpresas desagradáveis, sobretudo, para a base de apoio ao governador reeleito João Azevêdo. Interlocutores do chefe do Executivo têm alertado que, no segundo mandato, ele precisará ter apoios sólidos para viabilizar a chamada governabilidade, que foi mantida no primeiro mesmo em meio à pandemia de covid-19.
Em declarações, ontem, o deputado Tião Gomes fez apelo ao governador João Azevêdo no sentido de que se inspire no gesto do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que já garantiu que não vai interferir nas eleições das Mesas da Câmara dos Deputados e Senado Federal, deixando que os expoentes da sua base de apoio conduzam as melhores soluções possíveis dentro da correlação de forças que resultou das eleições parlamentares em outubro. João Azevêdo, que gozou de liberdade ou autonomia nas definições para preenchimento da chapa majoritária que o acompanhou na campanha e no pleito, fez chegar a alguns desavisados a informação de que saberá atuar com habilidade no processo envolvendo interesses de aliados na Assembleia Legislativa do Estado. Ele tende a se resguardar para um envolvimento no processo em momento que julgar oportuno, principalmente se identificar algum sintoma de impasse irremovível e prejudicial à própria governabilidade. Até lá, caberá aos deputados-postulantes tomar a frente das articulações e buscar viabilizar apoios sem quebra da unidade que o governador deseja ver mantida no segundo mandato à frente do Palácio da Redenção.