Nonato Guedes
O ex-governador Ricardo Coutinho, que está em franca articulação para retornar aos quadros do Partido dos Trabalhadores, dando por encerrada a sua jornada no PSB, demonstra interesse especial em se valer da influência que tem junto ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e demais expoentes da cúpula nacional petista para assegurar sua própria candidatura ao Senado e, ao mesmo tempo, desencadear mutirão para devolver à Câmara Federal o ex-deputado Luiz Couto, que se projetou na Casa pela sua atuação na Comissão de Direitos Humanos e nas denúncias sobre escalada de violência por parte de grupos de extermínio. Couto, que no passado teve divergências sérias com Ricardo quando este tentava se impor no comando do PT paraibano, filiou-se à liderança do ex-governador quando este ainda estava nas hostes do PSB.
Nas eleições municipais de 2020 para prefeito de João Pessoa, Luiz Couto engajou-se na campanha de Ricardo Coutinho pela legenda socialista, apesar do ex-governador não ter tido votos, sequer, para disputar o segundo turno. Com a atitude, Couto passou por cima das resoluções e deliberações dos diretórios municipal e estadual do PT em João Pessoa e na Paraíba que haviam homologado a candidatura do deputado Anísio Maia a prefeito, em coligação com o PCdoB, que indicou Percival Henriques a vice-prefeito. A chapa Anísio-Percival teve 1% dos votos no universo válido que o TRE computou, e o próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ignorou a candidatura própria do seu partido e hipotecou apoio à candidatura de Ricardo Coutinho. Lá atrás, em 2018, depois de resolver permanecer à frente do governo até o último dia do mandato, não disputando nenhum mandato eletivo, Ricardo apostou nas candidaturas de Veneziano Vital do Rêgo, então filiado ao PSB, e de Luiz Couto, do PT, ao Senado.
O desempenho de Couto na primeira tentativa em chegar ao Senado foi surpreendente – ele acabou ficando em terceiro lugar, abaixo de Veneziano e da primeira mulher eleita senadora na história da Paraíba – Daniella Ribeiro, do PP. Luiz Couto superou nas urnas o ex-governador Cássio Cunha Lima (PSDB), que perseguia a reeleição e chegou a ser apontado como favorito, liderando pesquisas de intenção de voto feitas no início da corrida eleitoral. Ricardo confidenciou a jornalistas que tinha dois grandes objetivos na campanha de 2018: eleger João Azevêdo governador, o que foi alcançado em primeiro turno, e contribuir para derrotar Cássio Cunha Lima. Ele e Cássio haviam sido aliados em 2010, quando o tucano apoiou a candidatura de Ricardo ao governo e concorreu ao Senado. A dobradinha funcionou a contento nas urnas. Mas já em 2014, Coutinho e Cunha Lima estavam rompidos e, mais do que isso, tornaram-se adversários, enfrentando-se na disputa pelo governo do Estado. Ricardo foi o vencedor e, depois de concluir o seu mandato, a Justiça Eleitoral acatou alegações que Cássio vinha agitando sobre desigualdade no processo eleitoral em benefício do então postulante socialista.
Para 2022, além de migrar de volta ao Partido dos Trabalhadores, Ricardo tentará pegar carona na cauda do cometa “Lula”, favorito na disputa presidencial, para se eleger senador – posto pelo qual nunca havia demonstrado interesse até então, mas que seria indispensável para ele na dificílima fase que atualmente enfrenta, com processos remanescentes da Operação Calvário, que trata de desvios de recursos nas áreas da Saúde e da Educação. Ricardo faz planos, até mesmo, de levar o PT a lançar candidatura própria para derrotar João Azevêdo (Cidadania) no projeto de reeleição deste, mas não avança especulação sobre nome que poderia representar a chapa ao Executivo. Com o seu empenho em prol da volta de Luiz Couto à Câmara, compensando-o da perda de mandato por ter perdido o Senado em 2018, Ricardo quer prejudicar o atual deputado federal Frei Anastácio Ribeiro, em quem não confia, por ligações deste com o esquema de Azevêdo. Fala-se que, além de Luiz Couto, Ricardo quer apoiar Estelizabel Bezerra e Jeová Campos ou Cida Ramos para a Câmara Federal, a fim de fazer contraponto e prejudicar a candidatura à reeleição do deputado Gervásio Maia, que assumiu o comando do PSB com o afastamento de Coutinho das fileiras socialistas.