Nonato Guedes
Um dos mais talentosos profissionais de imprensa e figura destacada da intelectualidade paraibana, o poeta Walter Galvão Peixoto de Vasconcelos Filho, que morreu de câncer, hoje, aos 64 anos de idade, em João Pessoa, afirmou, em 1980, que o jornalista era um “ser terminal” nas redações porque convivia com as tensões políticas, sociais e culturais da conjuntura, que, a seu ver, estavam moldando uma nova racionalidade para o Terceiro Milênio. “O jornalista ainda é fruto de um humanismo, de uma cultura, de uma expressão linguística, uma representação de um modo de transmitir informações e conhecimentos que está chegando ao final, pelo menos no que diz respeito a determinados conceitos”, explicou Galvão em depoimento para o livro “Imprensa de Cada Um – 15 Anos depois”, assinado por Jorge Rezende e Nara Valusca, publicado em 1996 pela Editora Universitária.
– Se há um jornalista terminal, certamente há outro que está nascendo. O contexto da segmentação do público, da especialização da informação do profissional, da tendência apontada pelos gurus da comunicação, tipo Nicolas Negroponte, do Media Lab. Massachuset (Ita), de que a notícia está se tornando cada vez mais uma mercadoria e que o espaço editorial, via redes de computador, vai se tornar um espaço publicitário, faz com que a gente pense um novo comunicador, um jornalista mais especializado e afeito às novas tecnologias. Assim, nós temos vários tipos de jornalista atuando. Quanto ao fato de viver em situação-limite, a circunstância não mudou nos últimos anos. Aliás, o processo agudizou-se, aprofundou-se: a globalização da economia explodiu depois da queda do Muro de Berlim e da revolução na ex-URSS, novos paradigmas se apresentam, a Ciência do Caos, a Teoria do Paradigma Holográfico, o Construtivismo Matemático, a Teoria do Tudo, são investidas científicas que explicitam mais ainda a situação-limite que é justamente a mudança do que seja a razão, os padrões ideológicos em mutação, e, principalmente, a noção do que seja a comunicação, não mais uma mídia, apenas, não mais um transmissor dos acontecimentos, mas também a mídia, a notícia, um fato social, com densidade específica. O ser terminal, então, está arquejante, perplexo, vivenciando tensões incríveis que são essas determinando uma nova racionalidade – expressou Walter Galvão.
Natural de João Pessoa, Walter Galvão, por causa da erudição de sua formação e pelo conhecimento atualizado da dinâmica dos problemas sócio-culturais, era bastante requisitado para ministrar palestras, expor opiniões e agitar debates no âmbito do Curso de Comunicação Social e outras instâncias de discussão da Universidade Federal da Paraíba, bem como de outros fóruns de repercussão. Tornou-se figura carimbada e indispensável para apreciação de acontecimentos que estavam em evidência, não titubeando em ser denso nas abordagens. Para colegas de militância, ele era uma espécie de “ídolo pop” das novas gerações, pelo carisma que possuía e também pelas ligações com o meio artístico. Mas, como profissional, Walter atuou em diversas editorias, incluindo a reportagem geral, em vários órgãos de comunicação. No perfil constante do livro “Imprensa de Cada Um”, está dito que ele ocupou todos os cargos na imprensa, “exceto os administrativos”. Mas acabou ocupando funções executivas, na prefeitura de João Pessoa e no governo do Estado, de que era exemplo a passagem que desenvolvia pela presidência da Fundação Espaço Cultural José Lins do Rego.
O jornalista e também escritor Abelardo Jurema Filho lembra que na década de 80, no jornal “O Norte”, então sob o comando de Marcone Góes, já falecido, denominou em sua coluna a equipe de profissionais do veículo como “Os imbatíveis”, pela liderança que um grupo de jornalistas imprimiu ao jornal na concorrência com o “Correio da Paraíba” por algum período. Dos “imbatíveis” faziam parte Abelardo, Walter Galvão, Nonato Guedes, Júlio Santana e Erialdo Pereira. As incursões de Galvão estenderam-se, também, a emissoras de rádio e televisão. Ele deixou um legado reproduzido em vários livros e chegou a ser secretário de Comunicação e secretário-chefe de Gabinete do município do Conde. Ao comentar os avanços tecnológicos e de conteúdo do jornalismo paraibano, Walter Galvão analisou, em plenos anos 90: “Estamos melhor servidos de jornalismo na atualidade. Quanto ao novo jornalista, a questão é mais complexa, mas ainda aposto que ele exista mesmo. Jornalismo e jornalistas são as duas faces de uma mesma moeda”. Embora não tivesse especialização universitária, Walter Galvão foi um professor, já que formou gerações no âmbito da comunicação paraibana.