Nonato Guedes
Na chapa do presidente Jair Bolsonaro para a reeleição, em 2022, o general Hamilton Mourão não deverá ser mantido como vice do capitão, tal como constou da chapa vitoriosa em 2018 que derrotou em segundo turno o candidato do PT, Fernando Haddad, substituto de Lula, pela esquerda, na corrida eleitoral. Bolsonaro tem emitido sinais de preferência pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, para seu companheiro num embate que poderá vir a travar com o próprio Lula, se até lá for mantido o salvo-conduto outorgado pelo ministro Edson Fachin que tornou o petista elegível. O ministro Tarcísio é chamado de “tocador de obras”, por executar o cronograma de serviços e realizações em diferentes regiões do território nacional.
Ele é remanescente do governo de Michel Temer (MDB), que ascendeu com o impeachment da petista Dilma Rousseff, no qual Tarcísio de Freitas esteve à frente das Parcerias Públicas de Investimentos, um programa arrojado que é a menina dos olhos de prefeitos municipais e governadores de Estados, além de congressistas, pelo montante significativo de recursos que possui e pela repercussão das obras públicas que empalma. Na atual gestão de Bolsonaro, segundo versões, o Programa de Parcerias Públicas de Investimentos tem multiplicado a proporção dos recursos e, não fosse a pandemia de coronavírus, que prioriza as atenções, já seria possível a Bolsonaro exibir um vistoso canteiro de obras, inclusive na Paraíba, como as de duplicação na entrada da cidade portuária de Cabedelo. É respaldado pelo “portfólio” de obras marcantes que Bolsonaro tentará sensibilizar parcelas da sociedade receptivas a empreendimentos que gerem progresso e oportunidades de emprego ou de trabalho.
Como parte da estratégia de Bolsonaro para massificar a chapa que comandará na campanha do próximo ano, o ministro da Infraestrutura tem batido recorde de participação em “lives” semanais realizadas pelo chefe do Executivo, destinadas à sociedade como um todo mas, principalmente, à militância bolsonarista que mantém fidelidade ao candidato de 2018 nas redes sociais e que defende, enfaticamente, o seu governo e suas ideias. Interlocutores do presidente afirmam que o ministro Tarcísio ganhou a simpatia do capitão pelo seu estilo comunicativo e pela afinidade na execução de metas desenvolvimentistas que tentem fazer renascer o sentimento de “Brasil grande”, alardeado em outros tempos de ufanismo. Aliás, o atual presidente não se inspira apenas na pantomima patriótica exaltada por alguns generais que participaram do golpe de 1964 e ascenderam ao poder no período de 21 anos da vigência da ditadura. Inspira-se, também, na filosofia desenvolvimentista que consagrou o ex-presidente Juscelino Kubitscheck como um dos mais carismáticos líderes da História da Nação.
Diz-se nos meios políticos de Brasília que Tarcísio de Freitas, o vice “in pectoris” de Bolsonaro para a reeleição, só não deverá ser confirmado se houver necessidade de algum arranjo tático excepcional dentro da estratégia que possa favorecer a recondução do capitão a mais quatro anos de mandato. Avalia-se que, nessa hipótese, o atual mandatário terá que estar aberto a outras soluções, incluindo alianças políticas, um aspecto que não foi muito considerado em 2018 porque Bolsonaro tentava se apresentar como outsider, desvinculado de relações políticas. A jornalista Thaís Oyama, aliás, no livro “Tormenta”, versando sobre crises, intrigas e segredos do governo do capitão, revela que o general Hamilton Mourão era a quinta opção do candidato e recebeu o convite somente no último dia de inscrição da chapa no Tribunal Superior Eleitoral.
O plano A do capitão era o senador Magno Malta, da bancada evangélica do PR, mas, depois de aceitar a missão, ele voltou atrás e explicou que seria mais útil ao governo no Senado, como líder ou mesmo como presidente da Casa. O Plano B era o general Augusto Heleno, que não era filiado a partido nenhum e surpreendeu-se com o convite feito à queima-roupa por Bolsonaro. Houve manobras de bastidores para “rifar” Heleno, que, depois, confessou ter passado pela maior derrota de sua vida, já que queria muito ser vice de Bolsonaro. A deputada e advogada Janaína Paschoal foi a terceira opção de Bolsonaro, mas as posições dela, consideradas “radicais” pelo próprio Bolsonaro, a inviabilizaram. Houve uma quarta opção – o príncipe e deputado Luiz Philippe de Orléans e Bragança, que nunca esteve na linha direta da sucessão imperial e, notoriamente, tinha tudo para ser garfado, como o foi. Depois de muito lero-lero, chegou-se, finalmente, a Hamilton Mourão. Que tem tudo para não emplacar no posto ao lado de Bolsonaro, a bordo da caravana pela reeleição em 2022.