Nonato Guedes
O ex-senador Cícero Lucena reassume hoje, pela terceira vez, o comando da prefeitura municipal de João Pessoa encarando uma agenda de novos desafios, decorrentes não só das transformações que a metrópole incorporou ao longo dos anos, como das questões que se tornaram prioritárias devido a fatores da conjuntura. Uma dessas questões diz respeito, naturalmente, ao enfrentamento da epidemia de coronavírus, que no mandato de Lucena (PP) já estará na fase da imunização, processo tão complexo quanto a prevenção e o tratamento da doença que consumiram ações do poder público no recém-encerrado ano de 2020, com a urgência na criação e ampliação de leitos e na disponibilização de meios materiais para socorrer a população na calamidade.
Candidato que foi apoiado pelo governador João Azevêdo (Cidadania) nos dois turnos, Cícero demonstrou, no discurso apregoado durante a campanha eleitoral, consciência plena das responsabilidades impostas pelo novo período administrativo. E logrou vencer em segundo turno, por margem apertada, o candidato do MDB, Nilvan Ferreira, com o argumento de estar preparado, mais do que o adversário, para fazer frente a situações de emergência que ganharão proporções maiores de agora em diante. Não se trata para Cícero – como para os demais eleitos em 2020 – apenas de focar na problemática sanitária, fortalecendo a estrutura hospitalar e os instrumentos de atendimento. O contencioso envolve respostas imediatas para problemas como o aumento do desemprego, agravado pelas restrições impostas pela pandemia com as medidas de isolamento, mobilidade social e funcionamento das atividades econômicas ou produtivas.
As perdas são inúmeras, tanto em vidas como em postos de trabalho, em incremento da produtividade, do desenvolvimento econômico. Gestores municipais praticamente deixaram de investir em obras de impacto, nos diversos setores, no ano passado, porque tiveram que se concentrar, em caráter de “urgência urgentíssima” no equacionamento de demandas atinentes à calamidade da pandemia. Esta era a reivindicação latente da sociedade, uma imposição da realidade na dura fase emergencial. Nos pequenos intervalos abertos na conjuntura devastadora que se criou, chegaram a ser ensaiados passos pelo governo do Estado, por exemplo, para a perspectiva de retomada de empreendimentos que possam ocasionar ocupação e renda. Até então, no breu das tocas, o que subsistia era o auxílio-emergencial bancado às pressas pelo governo federal para possibilitar a sobrevivência de pessoas e de nichos de mercado que foram impiedosamente alcançados pelos reflexos colaterais da pandemia.
Cícero Lucena valeu-se como trunfo, no contato possível que estabeleceu com eleitores de João Pessoa, do estreitamento de parceria com o governo João Azevêdo, restaurando um entrosamento que estava interrompido na Capital da Paraíba para ações administrativas mais vigorosas e de resultados efetivos. Ainda que o governador João Azevêdo e o ex-prefeito Luciano Cartaxo tenham tentado buscar soluções emergenciais conjuntas, premidos pela cobrança da sociedade, em plena pandemia, ficou visível a ausência de uma sintonia mais fina que, indiscutivelmente, propiciaria ações mais coordenadas, com resultados eficazes, e operações articuladas dentro de cronogramas rápidos e infalivelmente eficazes. A despeito do escasso tempo para a transição administrativa, a equipe de Cícero Lucena buscou se assenhorear das informações mínimas necessárias para dar largada a um plano operacional mais consistente, o que ficou inviável, por razões óbvias, na gestão em fim de mandato de Luciano Cartaxo. É o que se vai ver, na prática, a partir destes primeiros dias de janeiro.
A pandemia do novo coronavírus dimensionou um outro problema não pode mais esperar indefinidamente por solução: a necessidade de atuação do prefeito de João Pessoa focada na articulação de toda a região metropolitana, que abrange municípios como Cabedelo, Bayeux, Santa Rita, Lucena e Conde. Afinal de contas, o papel da Capital como polo de irradiação fez com que houvesse excesso de demanda de pacientes em hospitais e unidades de saúde, oriundos não só dos municípios da Grande João Pessoa, mas de localidades de regiões as mais longínquas do Estado, que se voltaram para a Capital como os muçulmanos se voltam para Meca, reverentes e esperançosos. Quando administrador, Cícero propôs a alternativa de um Consórcio agrupando, preferencialmente, a região metropolitana, com o compartilhamento de responsabilidades para problemas comuns ligados à infraestrutura. Por um desses males da vida pública brasileira, tal experimento não teve, porém, continuidade para se fixar em condições adequadas ao crescimento das necessidades e impulsionamento de metas.
Cícero Lucena se elegeu prefeito de João Pessoa, pela primeira vez, em 1996, sendo reeleito em 2000. A esta altura, tinha sido vice-governador do Estado, governador pelo período de dez meses e secretário de Políticas Regionais, com status de ministro, no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Deixou marcos importantes e reveladores da sua sensibilidade social, como a extinção do Lixão do Róger, que era uma vergonha para as administrações pessoenses. Tem, portanto, uma trajetória de experiência que realmente o credencia a assumir desafios. A terceira gestão de Cícero Lucena é a oportunidade que, como ele pediu, está sendo dada pela população para empreender a melhor de todas as suas até aqui catalogadas. A conferir!