Nonato Guedes
O jornal “Correio da Paraíba”, na sua versão impressa, circulou hoje pela última vez para assinantes e leitores avulsos. Em comunicado na primeira página, o jornal fundado por Teotônio Neto em cinco de agosto de 1953 e dirigido até agora pelo empresário e ex-senador Roberto Cavalcanti, ressalta que o estado de calamidade vigente por causa da pandemia do novo coronavírus impediu a venda comercial e a distribuição jornalística, inviabilizando desta forma o funcionamento do jornal. O comunicado enfatiza que o “Correio” teve uma história de lutas, conquistas, resistência e muitas vitórias.
O colunista Abelardo Jurema, em sua despedida, disse que o “Correio da Paraíba” não pode resistir ao avanço da tecnologia digital e, finalmente, ao processo de uma pandemia que está ameaçando a saúde dos brasileiros e arruinando a economia do país. Jurema assinou a coluna de maior longevidade da imprensa da Paraíba, com 45 anos de circulação ininterrupta e de liderança na preferência do público.
Com o fechamento do “Correio”, o único jornal impresso a circular na Paraíba é “A União”, do governo do Estado, referência centenária na informação e na cultura, atualmente administrado por uma empresa estatal de comunicação criada pelo governo João Azevêdo e dirigida pela jornalista Naná Garcez. Nos últimos anos, os problemas econômicos e a concorrência de sites, portais e blogs da internet provocaram o desaparecimento dos jornais “O Norte” e “Jornal da Paraíba”, bem como do “Diário da Borborema”, em Campina Grande.
O quadro de profissionais do “Correio” acolheu nomes de destaque na imprensa local, como Severino Ramos, Lena Guimarães, Rubens Nóbrega, Paulo Santos, João Manoel de Carvalho, Walter Galvão, Carlos Aranha, Evandro Nóbrega, além de inúmeros colaboradores nas diferentes áreas do pensamento. A editora geral até hoje foi Sony Lacerda e do Conselho Editorial fizeram parte ainda Gilberto Lopes, José Carlos dos Anjos, Clóvis Roberto, Damásio Dias, Eliz Monteiro, Fábio Cardoso, Lilian Moraes, Renato Félix, André Gomes e Pessoa Júnior. No expediente constam José Fernandes Neto como Diretor-Geral, Beatriz Ribeiro como Diretora-Executiva, Alexandre Jubert como Superintendente, Eribaldo Couto como Diretor Administrativo e Ricardo Ramos como Diretor Comercial.
Na íntegra, o comunicado aos leitores do “Correio da Paraíba”:
“Aos 05 de agosto de 1953 nascia um dos filhos do visionário e criativo líder político e empresarial Teotônio Neto: a empresa Jornal Correio da Paraíba Ltda. Durante estes 66 anos de longa existência, enfrentou todas as adversidades inerentes a uma empresa fruto da iniciativa privada. Conviveu e superou com galhardia dezenas de planos econômicos implantados em nosso País. Foi obrigado a ajustar seu planejamento financeiro em decorrência da adoção de muitas moedas. Liderou campanhas em prol de causas em defesa da Paraíba, dentre elas o combate sistemático e efetivo à corrupção. Pagou um preço imensurável com o sacrifício do seu diretor Paulo Brandão Cavalcanti, que, morto, tornou-se mártir dessa causa.
Ao longo desses 66 anos, prestou um serviço ao público leitor pautado pela ética e paixão. Divulgou e alavancou a economia da Paraíba veiculando publicidades em todos os campos econômicos através de espaços e cadernos especializados. Recebeu por parte de toda a população paraibana o reconhecimento pelo seu histórico trabalho. Foi carinhosamente recebido na intimidade dos seus valorosos assinantes. Enfrentou com sucesso, mantendo-se atualizado e atuante, os ajustes decorrentes de mudanças mundiais que atingiram o universo da comunicação, principalmente a mídia impressa. Manteve-se líder inconteste com sua circulação diária, aferida pelo IVC, por décadas seguidas. Nos últimos anos resistiu como o único jornal diário privado em circulação no nosso Estado.
Porém, o estado de calamidade que assola o mundo e o nosso País, já reconhecido pelo Congresso Nacional por meio do decreto legislativo número 6, de 20 de março de 2020, e também em razão dos decretos do governo do Estado da Paraíba números 40.134 e 40.135, que suspenderam o funcionamento de estabelecimentos comerciais, impediram a venda comercial e a distribuição jornalística, inviabilizando desta forma o funcionamento do Jornal Correio. Diante disso, comunicamos a todos os colaboradores vinculados à referida empresa, aos nossos leais leitores, assinantes, prestadores de serviços e ao público em geral que estamos encerrando nossas atividades neste sábado, dia 04 de Abril de 2020. Ao povo paraibano, leitores, colaboradores, clientes internos e externos, nossa palavra hoje é GRATIDÃO por terem sonhado nossos sonhos e acreditado em nós. Um novo tempo se inicia. Novas histórias iremos construir juntos. Que Deus ilumine e proteja todos nós”.