Com a decretação da anistia pelo governo do general João Batista Figueiredo, no final da década de 70 e a restauração do pluripartidarismo, antevendo as eleições diretas para governadores e prefeitos de capitais, os partidos políticos se engalfinharam, em todo o país, numa operação para atrair filiações de líderes políticos cassados pelo regime militar de 64. Na Paraíba, o cenário não foi diferente. O PMDB e a oposição em geral travaram uma luta com o governador Tarcísio Burity, do PDS, para prestigiar ex-cassados, e levaram vantagem, senão em quantidade de adesões, certamente em densidade eleitoral.
Esse fato foi admitido, na época, pelo próprio deputado federal Joacil de Brito Pereira, do partido do governo, lembrando que os nomes de maior expressão política estavam no sucedâneo do MDB, o partido da resistência à ditadura – casos do ex-governador Pedro Moreno Gondim e dos ex-deputados Ronaldo Cunha Lima, José Maranhão, Mário Silveira, ou dispersos pelo agrupamento de oposição, como Assis Lemos, José Joffily, Francisco Souto e Antônio Augusto Arroxelas, que, num primeiro momento, não optaram por ingresso em legendas. O PMDB ganhou o reforço do PP (Partido Popular), formado na Paraíba por dissidentes do PDS como o ex-ministro João Agripino e o ex-deputado Antônio Mariz ou por remanescentes do MDB como Antônio Carneiro Arnaud, discípulo do tio, o ex-senador Ruy Carneiro. Arnaud acabou se elegendo prefeito de João Pessoa em 85 já pelo PMDB.
Burity, como governador, conseguiu atrair Abelardo Jurema, ministro da Justiça do governo deposto de João Goulart (março de 1964), Robson Duarte Espínola e Domingos de Mendonça Neto – este último cassado como prefeito da Capital na década de 60. Abelardo, que não era um radical, protagonizou um gesto de repercussão nacional ao apertar a mão do general Figueiredo em audiência no Palácio do Planalto, atendendo ao chamamento do presidente da República para a reconciliação nacional. Mas Jurema, que foi líder do governo Juscelino Kubitscheck na Câmara dos Deputados, não tinha maior densidade política nem pretensões eleitoreiras, tendo sido admitido como assessor especial do governador, que fora escolhido por via indireta, pela primeira vez, em 78. O ex-deputado federal cassado Antônio Vital do Rêgo, mesmo sem ter ingressado no PDS, foi nomeado reitor da Universidade Regional do Nordeste em Campina Grande por ato do então prefeito Enivaldo Ribeiro, com o aval do governador Burity. Vital acabou concorrendo à prefeitura de Campina Grande em 82 contra Ronaldo Cunha Lima, que o derrotou no prélio.
Joacil de Brito vaticinava que Pedro Gondim e Ronaldo, pelo PMDB, e Vital do Rêgo, pelo PDS, embora sem a força de antes, teriam, nos próximos embates eleitorais, influência decisiva ou, pelo menos, uma significativa contribuição. “Quanto aos demais, perderam poder de fogo e a força do comando, sobretudo porque foram substituídos por novas lideranças”, dizia Joacil, já falecido. Na prática, Pedro Gondim decepcionou-se ao fazer o primeiro teste de volta ás urnas em 82, como candidato ao Senado pelo PMDB na chapa encabeçada ao governo por Antônio Mariz. Venceu a chapa Wilson Braga ao governo, Marcondes Gadelha ao Senado. Gadelha, que era filiado ao MDB e foi combatente da ditadura militar, transferiu-se para o PDS-PFL com o aval de Burity e do presidente Figueiredo, motivado por questões paroquiais – em Sousa, ele dava combate a Antônio Mariz, que foi admitido nos quadros do PMDB, presidido por Humberto Lucena.
Se Pedro foi derrotado ao Senado em 82, Ronaldo logrou empreender carreira vitoriosa, como prefeito de Campina Grande, governador do Estado, deputado federal e senador. Emplacou, ainda, o filho Cássio Cunha Lima como seu sucessor na prefeitura campinense (Cássio foi eleito prefeito por três vezes), como deputado federal, como superintendente da Sudene, como governador e como senador. Vital do Rêgo conquistou mandato de deputado federal e cedeu espaços para os filhos “Vitalzinho” e Veneziano Vital – este eleito prefeito de Campina por duas vezes, deputado federal e atualmente senador. Vital foi deputado federal, senador e é ministro do Tribunal de Contas da União. Nilda Gondim, a viúva de Antônio Vital do Rêgo, foi eleita deputada federal por um mandato e é atualmente suplente do senador José Maranhão (MDB).
Do ponto de vista simbólico, o PMDB atraiu um filiado de prestígio internacional: o economista Celso Furtado, fundador e ex-superintendente da Sudene e ex-ministro do Planejamento, no governo de João Goulart. Furtado, que no exílio lecionou na Universidade de Sorbonne, em Paris, filiou-se ao PMDB e teve seu nome lançado para disputar o governo do Estado em 1982. Mas, além do compromisso do partido com Mariz, ele não tinha qualquer expressão eleitoral na Paraíba, até por se manter afastado por bastante tempo do Estado.
Nonato Guedes