O ministro da Justiça, Sérgio Moro, comparece na manhã de hoje à Comissão de Constituição e Justiça do Senado, em plena maré de desgaste, para dar explicações sobre os vazamentos de conversas mantidas entre ele, quando era juiz, e o Procurador Deltan Dallagnol, sobre os rumos da Operação Lava-Jato. As conversas envolvem personagens de destaque da cena nacional como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso em Curitiba sob acusação de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Revelados pelo site The Intercept Brasil em uma série de reportagens, os diálogos contêm trechos em que se insinua a possibilidade de falta de elementos para a condenação e prisão de Lula, na opinião da defesa do ex-presidente, que se articula para tentar reverter o processo e obter a soltura do constituinte.
Convidado pelo presidente Jair Bolsonaro na condição de super-ministro, Sérgio Moro nem conseguiu avançar no desenrolar da votação do pacote anticrime enviada ao Congresso Nacional nem em outras medidas de efeito junto à opinião pública. A onda de acusações contra o ministro o coloca na berlinda e o presidente Jair Bolsonaro, em princípio, afirma que confia no auxiliar, mas não mais cem por cento. A oposição é a mais interessada em sabatinar Moro, dentro da sua tática de sangrar o ministro até sua exoneração. Moro criou inimizade com figurões da República, por ter expedido mandados de prisão preventiva e é praticamente criticado ou detestado por filiados com mandato de diferentes partidos. O ex-presidente Lula deu declarações acentuando que o vazamento das conversas apenas comprova o que vinha apregoando, ou seja, a parcialidade do ex-juiz nas sentenças emitidas quando estava à frente da Lava-Jato.
Interlocutores políticos do governo ainda falam numa operação para tentar blindar o ministro a partir do depoimento que dará aos senadores, quando, segundo se espera, vai esclarecer tudo. O ministro tem dito que muitas das conversas reveladas foram editadas e extraídas fora do contexto do que conversou com Deltan Dallagnol e com outros Procuradores. Está consciente de que não cometeu crime ou ilegalidade, embora admita que possa ter se excedido. A deputada federal Joice Hasselmann, líder do governo Bolsonaro no Congresso, que esteve no final de semana em João Pessoa e Campina Grande, na Paraíba, manifestou a convicção de que Moro e a Lava-Jato são alvos de uma orquestração e disse ter a expectativa de que o ministro não saia chamuscado do episódio. O desgaste de Moro se dá em meio a derrotas experimentadas pelo governo no Congresso, por falta de uma base parlamentar sólida.
Ainda ontem, o plenário do Senado Federal aprovou por 47 votos contra 28 o parecer da Comissão de Constituição e Justiça que pede a suspensão do decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro e que flexibilizou as normas de posse e de porte de armas de fogo. Com a decisão agora tomada, o texto seguirá para a análise da Câmara dos Deputados. Enquanto a Câmara, presidida pelo deputado Rodrigo Maia, do Democratas, não votar o tema, as regras previstas no decreto continuarão valendo. Na sessão de ontem no Senado, pelo menos vinte e quatro parlamentares discursaram, alternando posições contrárias e favoráveis à manutenção do decreto presidencial.
Nonato Guedes