Facções influentes do PT, que têm restrições à indicação de Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação, exigem da cúpula que, ao invés de Haddad, a estrela maior da propaganda eleitoral que começa no dia 31 no rádio e na TV seja o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atualmente preso e condenado a doze anos de prisão. A chapa petista às eleições deste ano é encabeçada por Lula, tendo Haddad na vice. Os petistas hostis a Haddad acham que a ocultação da imagem de Lula no guia enfraquece a chapa e pode levar o Partido dos Trabalhadores a um fracasso em centros estratégicos do país.
Apurou-se, nas últimas horas, que o nome da senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, foi lembrado para a vice de Lula, mas não encontrou receptividade junto a agrupamentos petistas empenhados em promover o retorno do líder ao Palácio do Planalto. A divisão reinante no PT já é consequência da decisão pelo registro de Lula mesmo com uma espada pairando sobre sua cabeça. O quiproquó jurídico armado em torno da presumível candidatura de Lula é que está induzindo petistas radicais a sugerirem o protagonismo de Lula. Da forma como vinha sendo combinado, Haddad apareceria, na televisão, envergando uma máscara que retrata o ex-presidente Lula da Silva. Essa proposta não tem consenso nas hostes petistas.
Especialistas políticos já começam a prever um definhamento do Partido dos Trabalhadores em relação ao capital eleitoral amealhado durante vários anos. Se for confirmado que Lula não pode ser candidato, por estar inscrito na Lei da Ficha Limpa, o Plano B é mesmo Haddad. Lula, aliás, orientou Haddad a habilitar-se como seu advogado no processo do tríplex do Guarujá, São Paulo. Como advogados de defesa de Lula têm livre acesso a ele na superintendência da Polícia Federal em Curitiba, Haddad poderia ter espaço maior para conversas com o presidiário, referentes, inclusive, à estratégia indispensável para alavancar a campanha do PT como um todo, no país.
A verdade é que a insistência de Lula em ser candidato, debatendo-se com os óbices legais, paralisa o poder de iniciativa ou de decisão dentro do PT. Lula é reconhecido em todas as instâncias petistas como a estrela maior do Partido dos Trabalhadores. Além do mais, o ex-presidente tem sido bafejado pela vitimização da sua imagem, refletida no episódio da prisão que enfrenta. Haddad dificilmente seria forte o bastante para carregar nas costas o PT, numa caminhada pelas urnas em direção ao Palácio do Planalto. As discussões prometem se arrastar dentro da agremiação.
Nonato Guedes