O deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB-PB) tem adotado um discurso que encontra pouco eco dentro do próprio partido. Ele não é contrário à reforma da Previdência, mas diz que ela está sendo feita da forma incorreta e que existe uma série de medidas que deveriam ser tomadas antes que ela seja aprovada. Cita o peso do Estado como uma prioridade óbvia em relação a outros cortes.
Candidato mais votado da Paraíba em 2014, ele é vindo de uma família com tradição na política do estado seu pai, o senador Cássio Cunha Lima, e seu avô, o ex-senador Ronaldo Cunha Lima, foram prefeitos de Campina Grande e governadores. Faz parte dos chamados cabeças pretas, a ala jovem do partido que está em constante conflito com os tucanos mais velhos, principalmente após vir à tona as denúncias contra o senador Aécio Neves (MG). Sobre sua posição quanto às reformas e os conflitos internos do partido, Cunha Lima concedeu a seguinte entrevista a EXAME.
O senhor tem falado muito sobre o aparelhamento estatal e diz privilégios deveriam ser tratadas antes mesmo da reforma da Previdência. Como fazer isso?
Semana após semana se fala que o Brasil quebrou e ninguém discute o custo da máquina pública. Porque temos o segundo parlamento mais caro do mundo? Porque a Casa Branca tem 300 funcionários e na presidência do Brasil são quase 20.000? Parece que esse assunto é sempre deixado para depois, primeiro fazemos o mais custoso para depois pensar nisso. Mas, para mim, é um tema óbvio para quem tem um mínimo de responsabilidade política: é preciso ser debater esse tema e mostrá-lo para a população. Um político que quer se reaproximar da população neste momento tem que fazer isso.
Outra crítica feita pelo senhor é que a reforma, defendida pelo seu partido, inclusive, vai onerar muito os mais pobres. O que o senhor pensa disso?
É o movimento é inverso ao que deveria ser. Ao invés de começar a mudar a estrutura da Previdência por quem mais pode suportar essa diminuição de amparo, se é que se pode chamar amparo o que é direcionado para essa elite, o que se está fazendo é justamente excluir essa casta da proposta, deixá-la intocada. Temos essa diferença enorme entre o Brasil Oficial e o Real e, na hora de fazer o ajuste, fazemos somente sobre o Real, e deixamos o Oficial de fora. Não tem como justificar e se conformar com esse tipo de direcionamento.
A Câmara custa mais de cinco bilhões de reais ao ano. Temos o segundo parlamento mais caro do mundo. O que poderia ser feito concretamente para reduzir os custos?
O começo seria cortar os principais excessos. Exemplo: o deputado que é suplente da mesa ele nem é membro da mesa, é suplente tem 11 cargos comissionados. Imagina se um suplente de vereador que nem assume tivesse cargos para distribuir. Algumas dessas funções têm salários de até 14.000 reais. É um absurdo. Outra coisa: nossa comunicação é cara e pouco eficiente. Existe até hoje o Jornal Câmara e o Jornal Senado, com uma estrutura de comunicação que é maior do que os principais veículos do país. Parece que o dinheiro é infinito para a Câmara. São quase 15.000 cargos comissionados. Nem cabe tanta gente lá. Para além da estrutura, é possível fazer uma otimização dos trabalhos. Poderia-se unificar as consultorias da Câmara e do Senado. Um projeto de lei é analisado pelos consultores da Câmara e então se segue para o Senado é analisado novamente pelos consultores do senado. Não tem porquê fazer isso duas vezes. Tem ainda o departamento médico dos deputados. O Senado já acabou com esse departamento e a Câmara tem que acabar.
Os parlamentares também são elegíveis para uma série de verbas indenizatórias que fazem parte da cota parlamentar, como passagens aéreas, telefonia, serviços postais, entre outras. Elas, inclusive, têm sido alvo de polêmicas nos últimos dias devido à destinação nem sempre bem empregada. Há espaço para reduzir isso?
Vou me usar como exemplo. Faço um corte no meu gabinete de quase 40% da verba, então é possível fazer um corte claro nisso. Poderia-se fazer uma redução dos 25 funcionários no gabinete, no número de viagens oficiais, nas passagens aéreas Há um número grande de viagens que poderia ser cortado. O fato é que se a Câmara fosse administrada por qualquer empresário, ele faria um corte de no mínimo 20% do orçamento sem prejuízo nenhum aos trabalhos.
O senhor faz parte de uma família tradicional na política, mas suas críticas ecoam também sobre os políticos. Como fica essa relação?
Eu sinto o peso da responsabilidade redobrada, porque eu preciso justificar a razão pela qual estou na política, para evitar que digam que sou só um sobrenome. Tenho orgulho do meu nome e da história da minha família, mas as pessoas querem atitude. Então preciso conquistar a confiança delas.
O seu partido, o PSDB, está dividido. Nesta semana, o senador Aécio Neves (MG) retomou a presidência da sigla do também senador Tasso Jereissati (CE) num movimento inesperado e que escancarou essa cisão. Como o senhor viu essa atitude?
O partido já está dividido há algum tempo, e agora ficaram escancaradas as diferenças. Temos diferenças profundas dentro de um só partido, o que não é bom. Do nosso lado, vamos mostrar que existe essa diferença de postura com relação a atitudes como essa. Eu me solidarizo com o senador Tasso e fico estimulado a dar sequência ao nosso ativismo para melhorar o PSDB.
Onde essas diferenças vão parar? Há risco de se tornarem irremediáveis?
É imprevisível saber onde isso vai parar. Vai haver uma convenção em dezembro e existe uma unidade muito grande no nosso lado de que não vai ser dessa maneira (com atitudes como a de Aécio) que vamos baixar a cabeça. Acredito que o senador Tasso e esse movimento, esse grupo que abraça uma série de causas em comum, sai fortalecido dessa intervenção descabida e injustificada.
O senhor não tem medo que isso se reflita nas urnas em 2018, não só na sua votação, mas na do partido como um todo?
Tudo isso pode refletir nas urnas, sim. Agora, não podemos baixar a cabeça para essa decisão do senador Aécio porque ela é descabida e nos calarmos poderia trazer uma consequência ainda pior nas eleições.
Fonte: Exame