Aliados do senador José Maranhão, presidente do diretório regional do PMDB na Paraíba, começam a ecoar um argumento colhido na própria fonte, ou seja, junto ao parlamentar: o de que o prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, do PSD, tem dever de reciprocidade no sentido de apoiar uma candidatura peemedebista ao governo do Estado no próximo ano, já que em 2016, na campanha pela reeleição na Capital, teve o apoio irrestrito do PMDB. Maranhão e os maranhistas afirmam que a inclusão do ex-deputado Manoel Júnior como candidato a vice na chapa de Cartaxo, abrindo-lhe a perspectiva de ascensão à titularidade, não quita “faturas” de Luciano com o partido.
O senador José Maranhão tem deixado claro nos últimos dias, quando assumiu ostensivamente a pretensão de candidatar-se ao governo em 2018, que não houve nenhum acordo firmado ou apalavrado no sentido de que a aliança em 2016 teria desdobramento em 2018 com Luciano novamente na cabeça. Para o senador, conforme fontes de sua extrema confiança, ficou convencionado que cada eleição seria encarada como uma eleição e que, portanto, os compromissos celebrados no ano passado ficaram restritos a essa conjuntura. O prestigiamento de Cartaxo a Júnior, com a investidura deste quando das viagens do titular, também não é encarado no PMDB como “um favor” e, sim, como decorrência de uma obrigação constitucional, sobretudo em ausências mais demoradas e, até, para o exterior, como se deu recentemente, quando Luciano viajou para os Estados Unidos.
Cartaxo foi vice de José Maranhão na campanha de 2006, quando era filiado ao Partido dos Trabalhadores. A chapa foi derrotada por Cássio Cunha Lima (PSDB-)-José Lacerda Neto (DEM), nas urnas, mas foi contestada na Justiça por peemedebistas e outros então adversários de Cunha Lima. Em fevereiro de 2009, o Tribunal Superior Eleitoral decretou a cassação da chapa vitoriosa em 2006 e convocou Maranhão e Cartaxo para se investirem, respectivamente, no governo e na vice. Em 2010, Maranhão foi candidato novamente ao governo mas perdeu para Ricardo Coutinho (PSB). Cássio foi eleito senador.
Após deixar o PT uma vez eleito prefeito de João Pessoa pela primeira vez, Luciano Cartaxo abriu portas com o grupo Cunha Lima, de Campina Grande, mais precisamente com o deputado federal Rômulo Gouveia, que estava de saída do PSDB para fundar e presidir o PSD no Estado. Foi nessa legenda que Luciano se acomodou e pela qual concorreu à reeleição, vencendo no primeiro turno. O esquema do senador Cássio Cunha Lima apoiou teoricamente a campanha de Cartaxo à reeleição, mas não se empenhou tanto quanto o PMDB. Hoje, no agrupamento comandado pelo senador Cássio Cunha Lima, o prefeito reeleito de Campina Grande, Romero Rodrigues, busca apoio para se viabilizar também como candidato ao governo no próximo ano.
Maranhão é um político que, na conjuntura atual, tem trânsito tanto junto ao senador Cássio Cunha Lima e ao prefeito Romero Rodrigues quanto ao prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, mantendo uma porta aberta com o governador Ricardo Coutinho (PSB), a quem elogia, sempre que possível. O governador Ricardo Coutinho tenta emplacar a todo custo a candidatura do secretário João Azevedo, da Infraestrutura e Recursos Hídricos, à sua sucessão, mas a ideia não empolga sequer os ricardistas mais ortodoxos. Em todo caso, o governador acena com a hipótese de permanecer no mandato até o último dia para tentar viabilizar uma vitória de Azevedo para a continuidade do projeto que executa. O senador Maranhão acompanha esses movimentos e avalia que são naturais. Quanto à insistência de Luciano Cartaxo em ter o apoio do PMDB para concorrer ao governo do Estado, o senador tem confidenciado, informalmente, que há um certo egoísmo da parte do gestor da Capital, que não sinaliza abertura para se compor em torno de outros postulantes igualmente viáveis – como o próprio Maranhão se considera.
Nonato Guedes