Nonato Guedes
A militância política na Paraíba tem exigido muito “engenho” e “jogo de cintura” por parte do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) para sua própria sobrevivência, a ponto de levá-lo a dividir-se no apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao seu governo, em Brasília, enquanto, a nível local convive com desenvoltura com expoentes do “bolsonarismo”, figuras carimbadas da direita no espectro político-ideológico. Focado na sua reeleição para o Senado em 2026, Veneziano gostaria de ter a exclusividade do apoio do presidente Lula no Estado, mas tem consciência de que o mandatário vai precisar de palanque ampliado e deverá se desdobrar em pedir votos para ele e para outro aliado ilustre, o governador João Azevêdo, do PSB, com quem o senador está rompido. Afinal, o presidente da República e os líderes do PT voltam a agitar a bandeira da “frente ampla” ou da “concertação de forças” para a reeleição ao Planalto e para a derrota dos representantes do fascismo, como são denominados o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores.
O parlamentar emedebista, que na atual legislatura foi eleito duas vezes para primeiro vice-presidente do Senado, tem defendido a tese de que no bloco oposicionista paraibano há espaço para lulistas e bolsonaristas, que convergem por uma bandeira regional – a oposição ao governador João Azevêdo. Na semana passada, Veneziano participou de uma confraternização no apartamento do ex-senador Efraim Moraes (União Brasil) em que estiveram o senador Efraim Filho, o ex-governador Cássio Cunha Lima, o ex-deputado Pedro Cunha Lima e o deputado federal Cabo Gilberto Silva, do PL e bolsonarista ortodoxo. Esse palanque poderá ser reforçado pelo ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga (PL) e pelo pastor Sérgio Queiroz, do Novo, que concorreram nas eleições municipais de 2024 em João Pessoa a prefeito e a vice, avançando para o segundo turno. No primeiro turno, Veneziano “fechou” com a candidatura do deputado federal Ruy Carneiro, que é anti-petista, e na rodada decisiva preservou-se de qualquer interferência ou participação, liberando seus eleitores para decidirem livremente sua opção no processo. Essa postura pragmática de Veneziano é conhecida em Brasília e entendida pelo presidente Lula como consequência da realidade de disputa na Paraíba.
O Palácio do Planalto, de fato, não tem do que duvidar de Veneziano em termos de lealdade, pois, ainda agora, um levantamento do “Congresso em Foco” apontou que o “Índice de Governismo” do parlamentar é bastante expressivo e que ele se situa entre os políticos que mais votaram favoravelmente a matérias de interesse do governo, inclusive, projetos controversos que causam repercussão negativa junto a segmentos da opinião pública. Nas suas falas no Estado, Veneziano defende abertamente o governo de Lula, diferentemente do senador Efraim Filho, cujo partido, o União Brasil, tem ministérios na Esplanada em Brasília, ao passo que ele demonstra postura crítica em relação à gestão petista. Na campanha eleitoral de 2022, Veneziano decidiu arriscar uma candidatura ao governo do Estado e, estrategicamente, atraiu o PT para sua chapa, cedendo a vice-governança (que foi para Maísa Cartaxo, mulher do deputado estadual Luciano Cartaxo) e uma vaga ao Senado, que foi ocupada pelo ex-governador Ricardo Coutinho, derrotado por Efraim na contagem final.
Na outra extremidade política, Veneziano promoveu uma pacificação histórica em Campina Grande com o grupo Cunha Lima, seu desafeto em inúmeras batalhas eleitorais, apoiando a candidatura de Pedro no segundo turno depois que não conseguiu se posicionar bem na disputa majoritária. O estreitamento de relações da parte do senador se aprofundou na interlocução com o prefeito Bruno Cunha Lima (União Brasil), a ponto de conseguir obter facilidades nos escalões de poder na capital federal para a liberação de recursos, de empréstimos e de obras de relevância para o segundo maior colégio eleitoral da Paraíba. A aproximação de Veneziano afastou o deputado federal Romero Rodrigues (Podemos) de Bruno por algum tempo, tendo sido cogitada, inclusive, uma candidatura dele, novamente, à prefeitura da Rainha da Borborema. Mas a mediação de líderes como Cássio e Efraim Filho possibilitou que Romero acabasse se compondo com a candidatura de Bruno, embora o grau de engajamento na disputa não tenha sido maciço, como se deu na primeira campanha do jovem prefeito.
Veneziano, tão logo fechou as malas da campanha de 2022 a governador, anunciou-se candidato à reeleição em 2026, e tem investido todas as suas energias e instrumentos disponíveis para assegurar-se essa vaga, prevendo um confronto aberto com o governador João Azevêdo, que no apagar das luzes de 2024 sinalizou a jornalistas que o seu Plano A para o futuro é uma candidatura ao Senado da República, a ser construída junto a forças políticas que obedecem a sua liderança. A estratégia de Veneziano repete, em parte, a tática exitosa de Efraim Filho, que em 2022 rompeu com o esquema de João Azevêdo e lançou-se candidato ao Senado na chapa encabeçada por Pedro Cunha Lima. A semelhança de estratégia está na precipitação do lançamento e na produção de fatos relevantes para a candidatura à reeleição – e esse jogo duplo de Veneziano vai ter continuidade até o fechamento das urnas de 2026, um movimento que é acompanhado com atenção pelos analistas políticos da Paraíba.