Nonato Guedes
Com o cenário pré-eleitoral atualmente polarizado entre dois candidatos de centro (o prefeito Cícero Lucena, PP, que postula a reeleição) e o deputado federal Ruy Carneiro (Podemos), que vai para mais uma tentativa em seu currículo, as forças políticas de direita decidiram ultimar entendimentos para forjar uma candidatura competitiva à edilidade pessoense. Um exemplo desse esforço foi o pacto firmado, ontem, entre o PL, que tem o ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, como pré-candidato, e o Partido Novo, que recentemente ganhou capilaridade com o ingresso do pastor e procurador da Fazenda Nacional Sérgio Queiroz, ex-candidato ao Senado em 2022, com expressiva votação em João Pessoa. Ambos representam a vertente bolsonarista na Capital, depois que o comunicador Nilvan Ferreira migrou para Santa Rita e filiou-se ao Republicanos para assegurar candidatura, repaginando o seu perfil e garantindo que não vai nacionalizar a campanha na terra dos canaviais.
Estrategicamente, durante o evento de anúncio da aliança entre PL e Novo na Capital, não se avançou na definição de nomes para encabeçar a chapa majoritária. O consenso é o de que o anúncio oficial caberá ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que tem programação agendada para os próximos dias em João Pessoa a pretexto de fortalecer apoiadores da sua liderança envolvidos na disputa municipal. Mas restou evidente a desenvoltura com que o ex-ministro Marcelo Queiroga se apresenta, naturalmente bafejado pelo sinal de preferência ao seu nome que foi emitido por Bolsonaro em recente declaração. Na ocasião, o ex-mandatário enalteceu o trabalho de Queiroga à frente da Pasta da Saúde em plena pandemia de covid-19, quando deu partida à campanha de vacinação em todo o território nacional, apesar da postura negacionista externada pelo então presidente da República em relação à dimensão da tragédia e às medidas para combater a emergência. Além da louvação ao desempenho de Queiroga, Bolsonaro é grato ao ex-ministro pela lealdade demonstrada na sua defesa e do seu governo em momentos críticos que ainda hoje se amplificam.
Se o critério adotado para escolha do candidato da direita em João Pessoa fosse a densidade eleitoral, Queiroga estaria perdido, uma vez que nunca disputou mandatos políticos e tem pontuado com baixo percentual em pesquisas de opinião pública que estão sendo liberadas preliminarmente. Sérgio Queiroz, que não assume, de forma decidida, um projeto de candidatura a prefeito, aparece bem posicionado em enquetes realizadas por emissoras de rádio ou canais da internet, o que é atribuído em alguns setores ao “recall” da sua campanha ao Senado, quando concorreu pelo PRTB e tentou “vender-se” como um produto essencialmente novo ou moderno, desvinculado de práticas políticas tradicionais e, mais ainda, de oligarquias que têm se revezado hegemonicamente na conjuntura estadual. Abstraindo o detalhe, é Queiroga quem se mostra mais ativo na arregimentação no papel de pré-candidato, tendo demonstrado, inclusive, surpreendente habilidade ao reunificar o PL, mediante atração de engajamento dos deputados Cabo Gilberto Silva (federal) e Walbber Virgolino, estadual (já anunciado como pré-candidato a prefeito de Cabedelo).
O pastor Sérgio Queiroz revela que poderá participar da campanha eleitoral em João Pessoa “de forma propositiva”, colaborando com sugestões para um programa de governo que possa contribuir para mudanças no modelo de gestão que é executado atualmente e que enfrenta críticas por não contemplar requisitos como o da eficiência, agilidade e proatividade na entrega de resultados, de acordo com o teor das falas dirigidas à administração de Cícero Lucena. Num “agrado” a Queiroz, o ex-ministro Marcelo Queiroga declarou que ele tem credenciais para ocupar qualquer lugar ou espaço na chapa e no processo político em João Pessoa, lembrando que o pastor deu provas da sua qualificação administrativa quando atuou como Secretário de Modernização no governo único de Jair Bolsonaro. Para além disso, Queiroga mostra-se atento, na verdade, ao potencial eleitoral que Sérgio Queiroz pode carrear numa disputa, mediante prestígio pessoal construído no trabalho à frente de uma igreja de amplo conceito na Capital paraibana, focado em projetos sociais de alcance inegável. Nos bastidores, o que se afirma é que Sérgio Queiroz pode estar ensaiando uma volta, agora, como tática para pavimentar o terreno com vistas às eleições de 2026, quando poderá disputar, novamente, uma cadeira no Senado da República.
Seja como for, o movimento de ontem, dos expoentes do bloco conservador na Paraíba, teve o simbolismo de uma reação diante do processo de inação a que a direita estava submetida. O avanço foi freado diante da estratégia de correção de rumos dentro do PL após a saída de Nilvan Ferreira para ajustes a uma nova realidade no cenário pessoense e estadual. O próprio Queiroga foi aconselhado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro a ser flexível nas composições necessárias para o refortalecimento do grupo de direita na Paraíba, o que implicou em concessões como a devolução do comando do diretório municipal de João Pessoa ao deputado Cabo Gilberto, que havia perdido a queda-de-braço exatamente para o ex-ministro da Saúde. Gilberto Silva foi premiado além da conta, sendo designado coordenador de campanhas de candidatos do partido e da direita na Grande João Pessoa, o que significou reabilitação em alto estilo que não era cogitada nos meios políticos. A expectativa se volta, agora, para a palavra final de Bolsonaro em todo esse desaguisado paraibano.