Nonato Guedes
O grande desafio do novo presidente do diretório municipal do PT em João Pessoa, Marcos Túlio Campos, é o de viabilizar a candidatura própria do partido à prefeitura da Capital nas eleições de 2024, conforme a pressão de segmentos petistas que lhe conferiram vitória acachapante na disputa contra o então dirigente, Antônio Barbosa, que tinha o apoio do ex-governador Ricardo Coutinho. A vitória expressiva, por 1.323 votos contra 77 atribuídos ao ex-presidente, teoricamente confere à nova gestão legitimidade para levar adiante o projeto da candidatura própria – e, nesse sentido, Marcos Túlio foi apoiado pelos deputados Luciano Cartaxo e Cida Ramos, que pleiteiam a indicação. Mas o novo comandante petista na Capital sabe que não basta lançar um nome por lançar – é preciso ter um nome competitivo que recrie para o PT a perspectiva de poder que se tornou real na primeira eleição de Cartaxo, mas que se evaporou quando Luciano rompeu com a sigla em meio à repercussão negativa do escândalo do mensalão. A eleição do último domingo é encarada como um divisor de águas na história da legenda.
Em 2020, mesmo não estando no PT, pois ainda se mantinha no PSB, o ex-governador Ricardo Coutinho atraiu o apoio do próprio líder Luiz Inácio Lula da Silva, que passou por cima da candidatura própria do deputado estadual Anísio Maia, que alcançou votação decepcionante, ficando em último lugar. Ricardo também foi derrotado e não logrou sequer avançar para o segundo turno, ocupado por um bolsonarista de carteirinha, o comunicador Nilvan Ferreira, que está novamente se insinuando ao páreo. Mas quem acabou vencendo a parada foi Cícero Lucena (PP), apoiado pelo governador João Azevêdo, que se apresenta como candidato à reeleição e ensaia uma aproximação com o governo do presidente Lula, cumulando-o de elogios, ao mesmo tempo em que corteja ostensivamente o apoio do PT numa megacoligação. O dilema de Marcos Túlio vai ser demonstrar que a candidatura própria do petismo tem chances de competitividade no próximo ano, beneficiando-se diretamente do apoio da gestão lulista.
Pode-se dizer que o cenário ainda está confuso para exigir uma definição, o que fará com que o debate seja aprofundado, tanto nas hostes petistas quanto em outros partidos que se situam no eixo de apoio a Lula. Ainda recentemente, causou controvérsia uma pesquisa encomendada pela direção nacional do PT, presidida pela deputada federal Gleisi Hoffmann, cujos resultados vazaram para a imprensa e que apontaram percentual de 2% para Luciano Cartaxo e percentual inferior para Cida Ramos. O deputado e ex-prefeito não titubeou em contestar publicamente os resultados do levantamento, alegando dispor de outros números, bem diferentes, que projetariam uma posição favorável a uma nova candidatura sua a prefeito de João Pessoa. O presidente estadual, Jackson Macedo, entrou no circuito para pedir respeito à consulta que fora encomendada pela cúpula nacional, com isto desencadeando divergências que tornaram mais dificultoso o consenso tão arduamente buscado por cabeças coroadas da agremiação. Há mesmo uma ala no PT, ligada ao governador João Azevêdo, que proclama o apoio a Cícero Lucena em nome do pragmatismo, e outra corrente que reclama para o PT a vaga de vice numa eventual composição com Lucena.
Essas questões vão dar o tom dos primeiros meses da atuação de Marcos Túlio à frente do diretório municipal petista em João Pessoa. No entanto, a reestruturação da sigla é tarefa mais urgente que se impõe, tendo em vista as baixas sofridas pelo PT, que, segundo se diz, foram agravadas com o retorno do ex-governador Ricardo Coutinho, devido ao estilo desagregador deste, bem como ao sentimento revanchista contra João Azevêdo que caracteriza as mais recentes intervenções feitas pelo antecessor deste no Palácio da Redenção. Na campanha de 2022, em que concorreu ao Senado e perdeu, Ricardo Coutinho fez dobradinha com o senador Veneziano Vital do Rêgo, presidente estadual do MDB e primeiro vice-presidente do Senado, um dos aliados fiéis do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Paraíba. No segundo turno, com o confronto a céu aberto desenhado entre o governador João Azevêdo e o deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), Ricardo evitou se expor de público, embora, nos bastidores, torcesse por uma derrota do socialista, conforme deixou vazar em conversas de grupos de WhatsApp. Ricardo sentiu-se tolhido porque o próprio Lula, no segundo turno, declarou seu apoio a João Azevêdo.
Para analistas políticos, o resultado da eleição de domingo último no diretório municipal pessoense teve duplo sentido: sinalizou reprovação à gestão burocrática do superintendente do Incra, Antônio Barbosa, à frente da agremiação e, também, um alerta para que seja restabelecida a democracia interna, até como fator de motivação da militância, que andava meio arredia, bem como para a oxigenação verdadeira, e não aparente, da vida partidária. A avaliação é de que a volta do líder Luiz Inácio Lula da Silva ao governo federal, com ações já deflagradas com o intuito de desmontar o maldito legado bolsonarista, representa a grande oportunidade para o PT, enquanto partido, se fortalecer em novas bases e em sintonia fina com as transformações verificadas no país e que apontam na direção da inclusão social como pedra angular do processo renovador no Brasil. Desse ponto de vista, o PT precisaria, também, incorporar métodos realistas e pragmáticos ao seu “modus operandi” para poder se credenciar no novo cenário. O advogado Marcos Túlio está pronto para “bancar” esse debate e promete respeitar a democracia interna. É o que se vai ver, a partir de agora, depois do ‘tsunami’ que abalou a estrutura petista na Paraíba, a partir da Capital.