Linaldo Guedes
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Um livro cujo tema central é um episódio, praticamente ignorado pelos historiadores, acontecido no sertão paraibano na luta pelo poder na época do Império, será lançado na próxima sexta-feira (5) na Livraria do Luiz do Mag Shopping, a partir das 18h. Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras (ACAL) e historiador com vários títulos publicados, Francisco Sales Cartaxo Rolim lança “Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros escritos”, em evento que terá apresentação do advogado, professor, doutor Jean Patrício, presidente do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano.
“De propósito, escolhi o Morticínio dada à especificidade da luta pelo poder local no tempo do Império. Não houve ‘luta de famílias’ nem disputa partidária entre adversários políticos cajazeirenses. Na raiz do morticínio estão embutidos fatores incomuns nas disputas violentas pelo poder no século XIX. A historiografia paraibana sequer registra o episódio como algo significativo. Por isso, quis chamar a atenção para o fato desde o título do livro”, explica Cartaxo.
O livro está dividido em quatro partes, segundo o autor. Nos quinze artigos da Parte I – Formação histórica de Cajazeiras – encontram-se pistas fundamentais para a compreensão exata da profunda marca da educação nas origens da cidade. “Os textos iniciais podem servir para alargar os caminhos percorridos por notáveis estudiosos do nosso passado. Daí a ênfase na figura emblemática do padre Inácio de Sousa Rolim, protagonista da singularidade de Cajazeiras”, define.
A Parte II destaca sangrenta disputa político-partidária, ocorrida em 1872, em dia de eleição, conhecida como o morticínio eleitoral em Cajazeiras, que resultou na morte de seis pessoas, ferimento em outras tantas. E instalou medo e pavor no seio das famílias cajazeirenses. “E o mais importante. Produziu efeitos duradouros em nossa vida política, com forte projeção além do Império. Por não se conhecer esse episódio, com profundeza, criaram-se fantasiosas versões, que abrigam um emaranhado de dúvidas e equívocos, alguns cristalizados, propagados pela tradição, com enfeites imaginosos, transmitidos de geração em geração”, ressalta.
Nas Partes III e IV, o autor transporta o leitor para mais perto de nosso tempo, por meio de quatro ensaios. O primeiro deles – escrito com a pronta colaboração dos advogados José Moreira Lustosa e Saulo Péricles Brocos Matos -, tem o intuito de incentivar a feitura da história do Poder Judiciário local. Dois ensaios biográficos, escritos de forma nada ortodoxa, integram a Parte III do livro. Neles a preocupação explícita é dirigida mais ao contexto do que aos personagens, Cristiano Cartaxo Rolim e Sabino Rolim Guimarães, em períodos sucessivos da história, nos meados do século XX.
A Parte IV é um ensaio dedicado ao governo do cajazeirense Ivan Bichara Sobreira. “Entendo ser necessária uma releitura do seu período governamental em face de omissões, e, arriscaria dizer, até de enviesadas interpretações encontradas na historiografia paraibana”, comenta.
A capa é de Dada Galvão Cartaxo, seu filho, poeta e designer gráfico. O livro, de 256 páginas, será vendido ao preço de apenas 50,00.
FORMAÇÃO LITERÁRIA
Autor de diversos livros, Cartaxo destaca que sua formação literária começou no ambiente familiar, por ser filho do poeta Cristiano Cartaxo. “Casa de poeta, professor, cronista do cotidiano, conferencista matuto, meu pai tinha razoável biblioteca, recebia livros de presente dos amigos e familiares que residiam longe de Cajazeiras. Ele lia em francês como hábito quase diário. Morei em Cajazeiras, até os 16 anos, e sempre passava férias lá. Lia de forma desordenada”, recorda.
A influência humanista de seu pai não é esquecida. “Em minha formação há influência do farmacêutico, poeta, professor, conferencista, diretor e editor de jornal, cronista de bom texto. Mas as leituras feitas, ainda na adolescência, começaram a mudar meu rumo. Meu pai foi integralista, leitor de Plínio Salgado e autores ligados ao catolicismo, até por influência dos padres salesianos, muitos deles vindo da Itália de Mussolini. Por intuição, eu tinha nebulosa desconfiança. Até tentei ler Plínio Salgado. Achei muito chato. Isso talvez tenha amortecida a influência recebida de meu pai”, acrescenta. E confessa que no campo literário mais amplo, sua mãe lhe influenciou mais do que seu pai. “Minha mãe lia muito. Guardo na memória cenas da infância. Ela deitada na rede, minha irmã mais nova mamando quando tinha fome e o livro não lhe saia das mãos! Outra cena: quando a luz do motor apagava, ela acendia a vela para continuar a ler até o dia clarear”.
Presidente da ACAL, Cartaxo diz que as academias de letras se alastraram mundo afora, ao longo dos anos, a partir da primeira instituição fundada na França, no século XVII. Possuem traços comuns, mas variam de lugar a lugar e tempos em tempos. “A Academia Cajazeirense de Artes e Letras, por exemplo, tem singularidades. O traço mais forte da ACAL é a profunda marca da educação, em perfeita sintonia com a história de Cajazeiras, que tem em sua origem uma escola, depois o colégio, graças à iniciativa do padre Inácio de Sousa Rolim”.
Entre os livros publicados por Cartaxo, estão: “Política nos currais” (Editora Acauã, 1979), “Do bico de penas à urna eletrônica” (Editora Bagaço, 2006), “Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao Padre Cícero” (Editora Livro Rápido, 2016) e “Antônio Joaquim do Couto Cartaxo e a formação de Cajazeiras” (Editora Arribaçã, 2019). “Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros escritos” sai com o selo da Livro Rápido Editora.