Nonato Guedes
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concluiu, na sexta-feira, 8, um giro político de uma semana com agenda cheia em Brasília, onde manteve negociações e conversas com partidos da base de centro-esquerda e esquerda, discutindo temas da conjuntura nacional, avaliando a sucessão presidencial e, em alguns casos, traçando cenários sobre disputas locais nos Estados. Apesar de ter confirmado em junho, à revista Paris Match, que será candidato a presidente da República, Lula não assumiu o figurino nas inúmeras articulações que promoveu. Ele deixou claro a diferentes interlocutores que a oficialização da candidatura virá somente em 2022.
– Eu ainda não me coloquei como candidato. Eu ainda não decidi porque vou decidir no momento adequado. Só confirmo minha candidatura em 2022 e até lá vou conversar com todo mundo – declarou o líder petista. Ele aparece como a principal cotação eleitoral para a presidência da República nas últimas pesquisas eleitorais. Conforme o site “Congresso em Foco”, no primeiro turno o ex-presidente abre vantagem de 21 pontos percentuais sobre Jair Bolsonaro (sem partido). Em um eventual segundo turno, Lula vence o atual mandatário com 55% contra 30%, apontam os levantamentos. Em Brasília, o ex-presidente se reuniu com partidos, aliados e ex-políticos que examinam a volta ao páreo legislativo. Entre eles, Pros, PSB, PCdoB, PSDB, Rede e PSOL.
Na quarta-feira, 6, foi oferecido um jantar pelo ex-senador Eunício Oliveira (MDB-CE) com a cúpula do MDB, de que participou o senador paraibano Veneziano Vital do Rêgo, vice-presidente do Senado Federal. Apesar da aproximação, Lula afirma que ainda não há indícios de aliança com o MDB. Segundo ele, o momento atual será de conversas. “Todos os partidos têm direito a ter candidato à Presidência da República”, opinou. O petista ressaltou que deverá conversar com mais frentes partidárias, empresários e demais representantes da sociedade. Numa conversa com jornalistas, manifestou o desejo de deixar para trás a Operação Lava Jato, pela qual foi incriminado e preso por 580 dias na superintendência da Polícia Federal em Curitiba. “Não vou discutir Lava Jato. Na minha vida, acabou”, expressou aos jornalistas.
Lula foi bastante questionado, também, sobre a possibilidade de uma terceira via na corrida presidencial no próximo ano. Avaliou que a campanha será focada em Bolsonaro e, se confirmado, ele próprio. Mas considera importante ter novos caminhos. “Eu não tenho problema em relação a isso. Podem ter quantas vias quiserem, eu acho muito importante”, garantiu. O ex-presidente, a propósito, comentou as vais ao presidenciável Ciro Gomes nos últimos atos promovidos contra o governo Jair Bolsonaro. Depois de frisar que não iria responder às “ilações” do pedetista, seguiu: “Acho normal que ele critique. Se ele quiser ganhar as eleições, tem que criticar a Bolsonaro e criticar a mim porque senão ele não vai a lugar nenhum”. Acerca de sua ausência nas manifestações de rua, o petista afirmou que ainda não esteve presente por uma questão de “responsabilidade”. A seu ver, mesmo com as duas doses da vacina, ainda é arriscado.
Outro fator que o tem impedido é não tentar transformar o movimento “Fora Bolsonaro” em um ato político. “Não queria e não vou contribuir para transformar atos em atos políticos, porque a hora que eu subir no caminhão estará subindo o primeiro colocado em todas as pesquisas de opinião pública que pode ganhar no primeiro turno. Quando eu subir no caminhão, não desço mais”, asseverou o ex-presidente. Em virtude das cautelas, ele tem avaliado a possibilidade de participar dos atos que estão programados para 15 de novembro. Lula desembarcou em Brasília na segunda-feira, dia 4, para deflagrar as conversas com aliados e partidos de centro. Interlocutores do ex-presidente informaram que ele possui “uma fala forte” sobre a sua campanha à presidência em 2022. Para além das novas estratégias referentes ao processo eleitoral, Lula intensifica agenda para melhor orientar os petistas no Congresso e, assim, abrir espaço para novas alianças.
Um dos líderes envolvidos no diálogo com o ex-mandatário destacou que Lula, nas conversas, reforça a importância de tentar mudar a imagem que o partido carrega, de corrupção, roubo e Lava-Jato, que o persegue desde que deixou o poder. “O debate é para mostrar a injustiça cometida contra Lula, mudar o discurso de roubo do PT e intensificar o debate com a sociedade”, traduziu o informante. Outro objetivo é consolidar uma base de sustentação no Parlamento e organizar a casa para a volta de Lula. “É fundamental ter uma base de sustentação no Parlamento que seja forte e isso deve acompanhar as votações majoritárias. Hoje, temos um Parlamento que vota apenas os projetos de Bolsonaro. É fundamental o partido se organizar junto com outros partidos de esquerda. Queremos casar uma boa construção para ele. O PT está fazendo isso, procurando articulação para palanques bons nos Estados”, afirmou.
Na noite de quinta-feira, 7, Lula realizou um “encontro digital” com mais de 5 mil dirigentes do Partido dos Trabalhadores. Durante a reunião, com estrutura inédita dentro do partido, o líder afirmou que a militância precisa “ir às ruas conversar com o povo”. Ao saudar os presentes, o ex-presidente Lula considerou uma “vitória” a realização do evento, pois trata-se da primeira experiência da legenda em formato digital, onde se reuniram representantes do PT de todos os Estados do Brasil no formato digital, o que demanda logística e estrutura também inéditas. Para Lula, a reunião deve servir de exemplo, mas também como resposta ao monopólio de comunicações do Brasil. “Vamos nos conectar pelas próprias pernas”, disse ele, sobre a necessidade de o PT ocupar as redes e fazer a sua comunicação. “O PT tem a obrigação de não deixar o país continuar assim. A gente não pode baixar a cabeça”, declarou Lula à militância, ressaltando a inflação, fome e o desemprego produzidos pelo governo Bolsonaro. Também participaram da reunião a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e a secretária de Organização Nacional, Sônia Braga.