Kubitschek Pinheiro
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É tempo de calor, de chuva e os dias passam ligeiros. Logo cedo estou de pé e logo anoitece. O dia de ontem já foi esquecido. Os meus dias não são mais “trópicos”. Eu queria um mar de afetos. Isso me parece longe. Não é fácil receber a visita da tristeza, quando a gente sabe que um amigo está no hospital entubado. O mundo parece morto. Uma amiga me pergunta porque ando tão calado. As inquietações não cessam.
A vontade de sair de casa ultrapassava aquela esquina ou ficou lá. Uma chance para nascer de novo vem das luzes da cidade. Uma rua subia até a casa de outra amiga, quando cinema era atração que não sumia. Minha alegria desaguava à toa. A outra rua, a Rua dos Amores, onde meu olhar da juventude ficou.
Eu podia virar à direita, atravessava um trecho de outra rua, como se fosse uma ponte e tinha o conhecimento à frente. No tempo de aprender, aprendi. O nome das ruas já me esqueceu. Também não interessa, o meu tempo é agora, como está no poema de Vinicius de Moraes. Um amigo me disse ainda em março: o mundo jamais será o mesmo. Entre o sim e o não, a vitória será sim, o mundo já é outro.
Eu gostava de andar de mãos dadas, essa sensação que já não existe, me empunhava a um entusiasmo da lembrança do bolo de leite, da vitamina de banana, uma concha de feijão, um colo, um abraço de cada membro da família. Uma sobremesa, um pavê de biscoitos maisena, uma colher de doce deleite antes de dormir.
A vontade de tomar um café enche minha boca d´água, minha camisa azul de mangas compridas nunca mais usei e o relógio de pulso, está na estante desde março. Felizmente o passar das horas não me apressa mais. O canto, meu canto e o desencanto. O vazio da inutilidade me incomoda. Eu já nem sei mais escrever. Às vezes, me rio sozinho, depois fico triste. Em silêncio. Sob a ameaça de perder pessoas queridas, o escuro se agiganta. Coragem e medo. O cio da vida me anima vez em quando.
Já não vejo o operário, o equilibrista, a senhora com a lata na cabeça, o homem velho, todos na curva do desassossego. A moça que passava a roupa, não passa mais na minha timelime, sequer aquele homem distinto e humilde que guardava a vaga do meu carro. Mas vejo as crianças e suas delicadezas desse admirável mundo velho. O mundo gira em velozes orações.
Oremos por Onaldo Queiroga!