Uma reportagem da revista “Veja” enfoca a projeção alcançada pelo poeta nordestino Bráulio Bessa, que com seu “cordel motivacional”, tornou-se autor de best-seller, estrela de programa de televisão e palestrante que fatura cerca de 450 000 reais por mês, em eventos pelo país. Celebrizado através do programa “Encontro”, de Fátima Bernardes, na TV Globo, o autor de 34 anos, natural de Alto Santo, município cearense, investe na boa e velha narrativa do sucesso inesperado que encanta leitores e espectadores ávidos por tramas inspiradoras.
Ele mesmo afirma: “Eu era um cabra pobre de uma cidade pequena que, de repente, tá na TV, é famoso, tem milhões de seguidores e começa a ganhar dinheiro como nunca imaginou ganhar na vida. Nas palestras, conto como este matuto cearense que escreve cordel chegou às listas dos mais vendidos”. Comum nas regiões Norte e Nordeste, o texto de versos ritmados traz tramas humanas e toca em assuntos delicados como a fome e a seca, resenha “Veja”, dizendo que Bráulio faz um cordel atualizado, falando de família, internet, machismo e homofobia, e carrega nas lições de superação. “Não seria exagero dizer que, de literatura de nicho e regionalizada, o cordel ganhou uma popularidade nacional inédita pelas mãos do poeta”. Desde 2017, quando lançou o primeiro livro, “Poesia com Rapadura”, Bessa é best-seller.
Com o quarto e mais recente título, Um Carinho na Alma (Sextante), o cearense soma nada modestas 370 000 cópias vendidas. No Gshow, canal de conteúdo online da Globo, bateu os 200 milhões de visualizações em 2018. Recentemente, ele reduziu suas idas semanais ao programa “Encontro”, de Fátima Bernardes, para reorganizar a agenda lotada – sinal de que está faturando horrores. Ganha, por baixo, 30 000 reais de cachê a cada palestra. Além disso, virou figurinha cortejada no meio publicitário, com campanhas que vão de alimentos a cosméticos. Assegura que seu salário na Globo é ínfimo, perto do que fatura com livros e palestras, mas compensa em razão da visibilidade. “A TV espalha minha poesia como um cavalo desembestado”, compara.
A trajetória do próprio poeta é marcada pelo empreendedorismo. Bessa se interessou pela poesia aos 14 anos ao descobrir Patativa do Assaré, uma lenda no Nordeste. A virada aconteceu com o boom das redes sociais. Considera a internet a “melhor feira do mundo”, explicando que pode escrever no Ceará e ser lido até em Tóquio, Japão. Foi, então, que resolveu criar o site de conteúdo cultural Nação Nordestina. Em 2014, a página já recebia 20 milhões de visitantes por mês, vitrine que o fez ser convidado para suas primeiras palestras. Desenvolveu ali o tom motivacional, criando um movimento para aumentar a autoestima nordestina. Da TV para o primeiro livro foi um pulo, mas a força que espalhou a voz de Bessa pelo país continuou sendo o mundo digital. A “Veja” reproduz alguns achados da poesia de Bráulio Bessa, tida como inspiracional.
“O que aprendi chorando/sorriso nenhum ensina”. “Quando a pancada é de jeito/me vejo no chão caído/Nessa hora me refaço, renasço em cada pedaço, daquilo que foi partido”. Ou: “Sucesso não é o carro parado na garagem. Sucesso é pegar a estrada e aproveitar a viagem”. Bráulio conta que ainda reside em Alto Santo “para não desaprender que sou normal. Almoço na casa da minha mãe. Colocamos a cadeira na calçada para falar da vida alheia”. Mas ele não esconde o orgulho da fama nas ruas, inclusive em lugares bem longe do interior nordestino. “Até em Paris me pediram foto. Concorri com a Torre Eifell”, afirma o poeta.
Da Redação, com informações de Raquel Carneiro, da “Veja”