A hipótese do fim da reeleição para cargos executivos, de presidente da República a prefeito municipal, voltou a ser cogitada em Brasília depois que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, do DEM-RJ, mandou “tocar” proposta nesse sentido, de autoria do deputado Marcelo Castro. O texto em pauta compensa o fim da reeleição com a vigência de um mandato de cinco anos. As mudanças se estenderiam também ao Senado, com a proposta de fixação de mandato de dez anos, sem possibilidade de reeleição. Atualmente, o mandato senatorial é de oito anos, com chances de reeleições consecutivas.
Adotado em 98, no governo Fernando Henrique Cardoso, debaixo de acusações de corrupção e compra de votos no Congresso, o instituto da reeleição é contestado frequentemente sob a alegação de que beneficia quem está no poder e pode se utilizar da máquina a fim de captar votos ilegalmente. Na Paraíba, desde a sua vigência, pelo menos três governadores foram beneficiados com mais um mandato: José Maranhão, em 98, Cássio Cunha Lima em 2006 e Ricardo Coutinho em 2014. Em 98, Maranhão estava no exercício titular do cargo devido à morte de Antônio Mariz e sua decisão de concorrer provocou reações do grupo Cunha Lima, liderado pelo falecido poeta e ex-governador Ronaldo. O “clã” campinense deixou o PMDB e ingressou em massa no PSDB. Maranhão acabou tendo como adversário o ex-deputado estadual Gilvan Freire, estimulado nos bastidores pelos Cunha Lima e que sofreu uma derrota acachapante para Maranhão, disputando pelo PSB.
Em 2009, Maranhão, que havia sido o segundo colocado nas eleições de 2006, foi chamado a completar o mandato de Cássio Cunha Lima, que fora reeleito mas teve o mandato cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral sob acusação de conduta vedada. Cássio nunca absorveu a punição, que considerou exagerada. Chegou a dizer que havia sido vítima de um dos maiores erros judiciários da história do país. Maranhão teve como vice Luciano Cartaxo, que era do PT e hoje é prefeito reeleito de João Pessoa pelo PSD. Em 2010, José Maranhão tentou reeleger-se ao governo, mas foi derrotado por Ricardo Coutinho, que emergia como líder estadual e atraiu os apoios de Cássio Cunha Lima e do DEM, liderado pelo então senador Efraim Morais. Ricardo teve como vice Rômulo Gouveia, que acabou rompendo com ele e assumindo o comando de um novo partido, o PSD, no Estado, cuja vitrine é a prefeitura da Capital. Em 2014, Ricardo derrotou Cássio Cunha Lima ao postular a reeleição, tendo como vice-governadora a médica Lígia Feliciano, do PDT, escolhida praticamente nos últimos dias que antecederam o registro da chapa.
Um outro político que tentou conquistar a reeleição ao governo na Paraíba e não foi bem-sucedido foi Roberto Paulino. Ele havia sido eleito junto com Maranhão em 98, numa chapa quimicamente pura, ou seja, só com quadros do PMDB. Ex-deputado federal, ex-deputado estadual e ex-prefeito de Guarabira, Paulino assumiu a titularidade do governo com a renúncia de Maranhão para concorrer ao Senado. Em 2002, Roberto Paulino partiu para tentar a reeleição ao governo. Ainda chegou ao segundo turno, mas foi batido por Cássio Cunha Lima. No contraponto, José Maranhão se elegeu, com folga, ao Senado. Nessa legislatura, Maranhão se projetou em cargos importantes no Congresso, a exemplo da presidência da Comissão Mista de Orçamento, responsável pela alocação de recursos federais para beneficiar Estados e municípios. Houve, na Paraíba, na conjuntura recente, o caso de um governador que ocupou por duas vezes o Executivo – Tarcísio Burity, na década de 80. Mas, como não havia a reeleição, ele exerceu o cargo em fases alternadas. Na primeira vez, indicado por via indireta pela convenção da Arena, no regime militar, tomou posse em 79. Em 86, concorreu ao governo pelo voto e pela legenda do PMDB, tendo derrotado Marcondes Gadelha, que era apoiado pelo PDS, por uma diferença de quase 300 mil votos.
Nonato Guedes