Não foi combinado mas o fato é que a guerra pela eleição de prefeito na Capital está polarizada entre o atual gestor Luciano Cartaxo (PSD) e a professora Cida Ramos (PSB), que tem o apoio ostensivo do governador Ricardo Coutinho. Na verdade, a queda de braço é entre Ricardo e Cartaxo, que já conviveram no PT, distanciaram-se, estiveram juntos em 2014 e romperam novamente. Desta feita, Cartaxo colocou a pá de cal em qualquer aproximação com Ricardo, aliando-se a Cássio Cunha Lima, fervoroso adversário do governador, por ele derrotado no último pleito majoritário, e a José Maranhão, que havia ensaiado reatar uma aliança sempre tumultuada e pontuada pelo personalismo dos dois líderes – JM e RC. O vice de Cartaxo, não por acaso, é o deputado federal peemedebista Manoel Júnior, que já foi vice de Ricardo na Capital mas nunca sintonizou seu horóscopo com o do governador.
Cida entra no contexto como o trunfo que Ricardo exibe para drenar a desenvoltura de Cartaxo em segmentos médios e áreas culturais-formadoras de opinião em João Pessoa. O governo do Estado, por vias oblíquas, a fim de não brigar com a legislação, tenta dar respaldo à candidata, que ocupou a secretaria de Desenvolvimento Humano, uma pasta estratégica para investidas no social. A escolha de Cida reflete o estilo de Ricardo de testar quadros não necessariamente políticos do ponto de vista da militância efetiva. Antes dela, o gestor mirou em João Azevedo, cem por cento técnico, profundo conhecedor da paisagem urbanística de João Pessoa e, por isso mesmo, teoricamente preparadíssimo para ser uma espécie de gerente ou administrador. Azevedo não evoluiu por falta do molho político, que lhe falta. Cida ainda provém de militância universitária, com envolvimento em lutas do DCE e, subsidiariamente, da Aduf. É articulada, tem discurso e conhece até certo ponto a radiografia das carências da Capital.
Há quem acredite que Ricardo apostou em Cida para tentar respingar nela o efeito psicológico causado pelo impeachment de uma mulher – Dilma Rousseff, na presidência da República. A jogada tem algumas variantes que talvez só com lupa se possa decifrar, ou talvez não. Dilma, que é do PT, se disse vítima de ‘misoginia’, ou seja, de preconceito de gênero, por ser mulher. Cida, como mulher, é um anteparo a preconceitos e tentativas de dominação machista na política. Em 2012, Ricardo lançou o nome da jornalista Estelizabel Bezerra como candidata a prefeita na Capital. Estela não logrou ir ao segundo turno mas teve performance superior à de José Maranhão – e, afinal de contas, foi eleita deputada estadual em 2014. O PT tem um candidato homem – o professor universitário Charliton Machado, mas o partido ficou baqueado tanto com o impeachment de Dilma, que é mais recente, tanto com a desfiliação de Cartaxo, que fora eleito pela legenda em 2012. Desse ponto de vista, há um acerto de contas não assumido oficialmente. Mas basta avaliar o discurso de Charliton para conferir que ele é tão ferino contra Cartaxo quanto a coligação que reforça Cida Ramos.
O embate, então, seria amplamente desigual ou desvantajoso para Luciano Cartaxo, que enfrenta o PT, seu ex-partido, o governador, seu ex-aliado, o vice-prefeito Nonato Bandeira, que compôs chapa ao seu lado, tendo atraído um tucano que sempre combateu os petistas – Cássio Cunha Lima, que tem influência residual maior, teoricamente, em Campia Grande, não em João Pessoa. Mas o PSDB soma positivamente em favor de Cartaxo, da mesma forma como o PMDB soma. O eleitorado não está querendo distinguir partidos que, de uns tempos para cá, estão nivelados. Posto o quadro assim, o confronto é entre Luciano e Ricardo (ainda que este seja um candidato oculto, já que se esconde na grife da candidata Cida Ramos). Páreo duro, até pelo prestígio de Ricardo, pessoalmente, na Capital. Mas pesquisas sinalizam que Cartaxo não é mal aprovado – pelo contrário, está em posição privilegiada no ranking. Isto sugere que ele é favorito na corrida sucessória e abre uma hipótese – a de que a parada seja decidida no primeiro turno.
Será mesmo assim? Não custa aguardar o pronunciamento das urnas, que é o mais cristalino.
Por NONATO GUEDES