A condução da Câmara Federal pelo deputado paraibano Hugo Motta tem produzido uma sucessão de episódios que, longe de fortalecer o Parlamento, revelam um cenário de esvaziamento institucional e submissão da Casa a agendas estritamente ideológicas. A recente blindagem concedida à deputada Carla Zambelli — que, mesmo foragida para não cumprir pena imposta pelo Supremo Tribunal Federal, foi agraciada com uma manobra que a livrou de punições políticas — é apenas o mais recente capítulo dessa distorção de prioridades.
O problema, contudo, é mais profundo. Sob a presidência de Hugo Motta, pautas alinhadas à extrema direita caminham com velocidade impressionante, enquanto debates de interesse nacional, que exigiriam equilíbrio, técnica e responsabilidade, ficam relegados ao segundo plano. A Câmara, que deveria ser o espaço da pluralidade e do choque saudável de visões, transformou-se num palco em que uma parcela radicalizada dita o ritmo.
O mais curioso — e ao mesmo tempo preocupante — é o completo desapego de Hugo Motta à percepção pública. Nas redes sociais, sua aprovação está em declínio, a rejeição cresce e os índices de engajamento mostram clara desconexão com a sociedade. Mas nada disso parece incomodá-lo. Pelo contrário: o deputado demonstra a convicção de estar entregando um “grande mandato”, como se governar a Câmara fosse agradar a um nicho ruidoso, e não preservar o papel republicano da instituição.
A Câmara dos Deputados é, historicamente, um espaço de moderação democrática. Quando sua direção abraça radicalismos, perde-se o equilíbrio que sustenta o jogo político. A Presidência precisa ser o freio, não o acelerador de impulsos que corroem a saúde institucional do país.
O que se vê, lamentavelmente, é uma Casa que chancelou a politização de tudo, inclusive do que deveria ser inegociável: o respeito às decisões judiciais, à separação entre Poderes e à lógica republicana.
Se Hugo Motta acredita que está protagonizando um dos melhores mandatos à frente da Câmara, o cenário sugere o oposto. Transformar o Parlamento num balcão de indulgências políticas não é liderança — é omissão disfarçada de bravura.
E o país, mais uma vez, paga a conta de escolhas que fragilizam a democracia enquanto fortalecem projetos pessoais e bolhas ideológicas.
Uma lástima, de fato.
