O horizonte poético paraibano de Lau Siqueira

Linaldo Guedes

Uma das coisas mais difíceis para um escritor ou poeta é ele mesmo organizar uma antologia ou coletânea. Sim, porque escolher quase sempre implica em omissões e às vezes até em injustiças. Felizmente não é isso que acontece na coletânea “Horizonte mirado na lupa – Cem poemas contemporâneos da Paraíba”, organizada pelo poeta Lau Siqueira para a editora Casa Verde, do Rio Grande do Sul.

Vejam que Lau Siqueira não escolheu cem poetas contemporâneos, mas, sim, cem poemas. Ou seja: são poemas que o organizador da coletânea gosta, independente de gostar de toda obra do poeta inserido na coletânea, penso eu. Assim, foram selecionados 50 poetas e dois poemas de cada um deles.

Vamos conferir quais são os poetas?

Estão no livro: Aderaldo Luciano, Águia Mendes, Amador Ribeiro Neto, Antônio Mariano, André Ricardo Aguiar, Anna Apolinário, Aline Cardoso, Astier Basílio, Bartolomeu Pereira Lucena, Bianca Rufino, Braulio Tavares, Ceiça Cirilo, Chico César, Chico Lino Filho, Clareanna Santana, Clotilde Tavares, Cyelle Carmem, Daniel Sampaio, Débora Gil Pantaleão, Eider Medeiros, Eliane Potiguara, Eunice Boreal, Expedito Ferraz Júnior, Fidélia Cassandra, Inês Monguilhot, Jairo Cézar, Jennifer Trajano, Jeovânia Pinheiro, Jon Moreira, José Rodrigues, Juca Pontes, Justino, Linaldo Guedes, Lua Lacerda, Luana Pordeus, Magna Vanuza, Marcel Vieira, Maria Valéria Rezende, Marineuma de Oliveira, Moama Marques, Natália Luna, Paulo Sérgio Vieira, Porcina Furtado, Saulo Mendonça, Sérgio de Castro Pinto, Silvinha França, Socorro Lira, Taí Tuwi’Xavã, Vamberto Spinelli Jr. e Vitória Lima.

Como se pode depreender da lista acima, tem poetas para todos os gostos, de várias gerações. Alguns ainda inéditos em livros, outros já consagrados. Poetas brancos, negros, homens, mulheres, indígenas…

Lau Siqueira diz que não teve a intenção de publicar “Horizonte mirado na lupa” para impor uma definição de cenário. “Mas confesso que não poderia perder a oportunidade de registrar um momento efervescente da poesia paraibana.  Finalmente seria possível misturar alguns versos de cordel com a safra neobarroca. Soneto com haicai e versos livres que gosto de chamar de polimétricos”, acrescenta.

Sem dúvidas, a coletânea registra as vozes polissêmicas que ecoam hoje na literatura paraibana, com os diversos estilos que povoam a nossa aldeia literária. A Paraíba é uma terra que sempre teve muitos poetas de destaque. Desde Augusto do Anjos, passando pela Geração 59, Grupo Sanhauá e outros grupos que vieram depois, nunca deixamos de produzir grandes poetas. E o mais interessante é justamente a pluralidade de vozes em nossa poesia. Afora Augusto dos Anjos, que tem uma dicção única, inconfundível, os nossos demais autores e autoras passeiam pelas mais diversas vertentes da moderna literatura mundial.

Lau Siqueira, o organizador da coletânea, é um dos poetas mais atuantes da literatura brasileira contemporânea. Incluso em diversas antologias espalhadas pelo Brasil, tem um estilo que vai do epigramático ao verso longo com a mesma qualidade. Essa qualidade ele buscou trazer para a coletânea da Casa Verde. E conseguiu! Claro que alguns autores e autoras ficaram de fora, não fosse assim não seria uma coletânea. São escolhas pessoais de Lau Siqueira, mas escolhas pautadas, sobretudo, na qualidade poética.

Afinal, como Lau, esse gaúcho adotado pela Paraíba, diz no último poema do livro:

“viver é delicado

argumento de samba

sentimento de fado”.

Linaldo Guedes é poeta, jornalista e editor na Arribaçã. Tem 12 livros publicados e é mestre em Ciências da Religião