Nonato Guedes
“Um atentado à liberdade de imprensa e ao jornalismo paraibano”. É assim que o jornal “Correio da Paraíba” define, na sua edição impressa de hoje, o assassinato a tiros do jornalista, advogado e empresário Paulo Brandão Cavalcanti, que integrava a direção do Sistema de Comunicação. Foram mais de 30 tiros disparado por metralhadora e pistola por policiais militares. A violência foi atribuída pelo jornal ao governo do Estado, motivada por denúncias veiculadas no jornal “Correio”, na época, sobre esquemas de fraudes em licitações e superfaturamento, tanto na administração estadual como na prefeitura de João Pessoa. O governador era Wilson Braga e o prefeito de João Pessoa era Oswaldo Trigueiro.
Paulo Brandão foi morto quando deixava o prédio da antiga fábrica Polyutil, que funcionava às margens da BR-101 Sul em João Pessoa. No local também funcionava um escritório administrativo do Sistema “Correio”. O texto da repórter Katiana Ramos, publicado hoje, lembra que ainda na noite do crime foram levantadas suspeitas de que a morte de Paulo Brandão fora tramada dentro do Palácio da Redenção e que tinha sido executada por policiais militares. Um inquérito foi aberto pela Polícia Civil, com o então delegado Janduy Pereira designado em caráter especial para investigar o crime. “No entanto, seis meses depois não havia nada de concreto na investigação, apesar de fortes indícios de autoria material e intelectual, que incluíam o nome do então governador como suposto mandante. Após uma mobilização de amigos e familiares de Paulo, que contou com apoio de setores importantes como a Ordem dos Advogados do Brasil, o caso foi repassado à Polícia Federal e um dos primeiros resultados da investigação foi a confirmação de que a metralhadora usada no crime era mesmo pertencente ao Palácio da Redenção, após exame de balística feito por peritos federais em Brasília”, prossegue a matéria da edição de hoje.
Meses depois, a PF indiciou o coronel da PM José Geraldo Soares de Alencar, conhecido como “Coronel Alencar”, que à época era chefe da Casa Militar do governo, bem como o sargento Manoel Celestino da Silva, o subtenente Edilson Tibúrcio de Andrade e o cabo José Alves de Almeida, conhecido como “Cabo Teixeira”. Ainda foi indiciada uma quinta pessoa, Ascendino José da Silva Cavalcanti, por crime de falso testemunho. A PF informou que o coronel Alencar foi quem planejou o crime, executado pelos outros três militares. Ele foi condenado a 20 anos de prisão como autor intelectual do crime. Em janeiro de 1996, o jornal “Folha de São Paulo” repercutiu uma entrevista do subtenente Edilson Tibúrcio de Andrade, um dos condenados pela morte de Paulo Brandão, em que o oficial dizia receber uma mesada de R$ 600,00 do então deputado federal e ex-governador Wilson Braga em troca do silêncio sobre a autoria intelectual do crime. No processo, essa culpa ficou para o coronel Alencar. Como o prazo de prescrição da acusação de homicídio é de vinte anos e já se passavam 26, o processo foi arquivado sem punição para o militar.
Na noite do crime, Wilson Braga estava fora do Estado, mais precisamente no Rio de Janeiro, para onde foi comemorar o aniversário da mulher Lúcia Braga, então presidente da Funsat, na boate Hipopótamos. No exercício do governo estava o empresário e ex-vice-governador José Carlos da Silva Júnior, que tomou as primeiras providências para elucidação do caso. Versões colhidas em depoimentos à PF davam conta de que o assassinato de Brandão teria sido um macabro presente de aniversário a Lúcia, idealizado pelo coronel Alencar, como represália por supostas insinuações de Paulo Brandão contra a ex-primeira-dama. O secretário de Segurança, Fernando Paulo Carrilho Milanez, encontrou dificuldades para fazer as investigações avançarem, daí porque recorreu-se ao ministro da Justiça do governo Sarney, Fernando Lyra, para colocar a Polícia Federal no circuito, o que foi feito.