A União Democrática Nacional, UDN, partido que representou o conservadorismo na política brasileira durante vinte anos e que foi extinto em 1965 por um Ato Institucional da ditadura militar, mobiliza dois grupos para a sua recriação e tem um plano ambicioso para as eleições de 2022: convencer Jair Bolsonaro a abandonar o PSL e disputar a reeleição pelo novo partido. A tarefa é considerada difícil e delicada. Além do mais, segundo reportagem da revista Veja, dois postulantes empenham-se para presidir o suposto futuro partido: o advogado Marco Antonio de Vicente Júnior, conhecido como Marco Vicenzo, que escreve em suas redes sociais, dá entrevistas e circula pelo Congresso como presidente nacional da UDN, e o comerciante Marcus Alves de Souza, que registrou boletim de ocorrência num distrito policial em Guarulhos, SP, acusando Vicenzo de falsidade ideológica e concorrência desleal. Marcus se diz o verdadeiro presidente da UDN e qualifica o concorrente de impostor.
O comerciante é autor do pedido de recriação do partido apresentado em outubro do ano passado no Tribunal Superior Eleitoral e formalizou em cartório o nome da sigla, registrando a logomarca udenista. O processo de recriação está na fase de coleta das 500 mil assinaturas exigidas pela legislação. Já teriam sido obtidas mais de 300 mil, segundo ele, acrescentando que somente ele tem autoridade para negociar como representante do partido. Pela sua versão à revista Veja, Marco Vicenzo participou do início do processo de recriação do partido e ajudou a colher assinaturas no Distrito Federal, mas os dois se desentenderam e passaram a atuar de forma paralela para viabilizar a recriação da legenda e assumir o seu controle.
O último presidente da República eleito com o apoio da UDN foi Jânio Quadros, que renunciou em seis meses de mandato em 1961. A UDN surgiu na década de 40, pregando o liberalismo econômico, o conservadorismo nos costumes, o combate implacável à corrupção, a aproximação com os militares e guerra ao comunismo. Tinha uma espécie de candidato cativo a presidente o brigadeiro Eduardo Gomes, que, no entanto, nunca se elegeu ao cargo. Possuía um grupo combativo e barulhento na Câmara, denominado de Banda de Música da UDN, integrado por luminares como Carlos Lacerda, que esteve na linha de frente da cruzada contra o presidente Getúlio Vargas, que se suicidou em agosto de 1954. Havia outros expoentes de prestígio e cultura respeitável, como Aliomar Baleeiro, Afonso Arinos e, da Paraíba, João Agripino Filho, entre outros. A agenda preconizada pelos udenistas é muito parecida com a do presidente Jair Bolsonaro, daí o assédio para que ele ingresse na sigla, se forr recriada.
Marco Vicenzo, que luta para controlar a nova UDN, já manteve contatos com parlamentares do PSL, a quem distribuiu o estatuto da legenda, discutiu as perspectivas eleitorais do partido para as eleições municipais do ano que vem e enumerou os principais itens da pauta conservadora que uniria udenistas e bolsonaristas a redução da maioridade penal e a facilitação da posse e do porte de armas de fogo. A UDN original adotava como slogan: O preço da liberdade é a eterna vigilância. No ano passado, quando Jair Bolsonaro see filiou ao PSL, a legenda tinha três deputados federais e recebeu 8 milhões de reais de verba do Fundo Partidário. Hoje, o PSL tem 54 parlamentares e vai embolsar 119 milhões até o final do ano. Segundo a repórter Marcela Mattos, autora da matéria da Veja, não há nada que indique que o presidente da República pretenda trocar de partido. Afinal, migrar para a UDN, no atual cenário, seria deixar um problema para se filiar a outro.
Nonato Guedes