O ex-governador Ricardo Coutinho, presidente estadual do PSB, tomou a iniciativa de se reaproximar do sucessor, o atual governador João Azevêdo, também socialista. As relações entre os dois estavam aparentemente estremecidas diante de intrigas motivadas pelo envolvimento de ex-secretários do governo Ricardo, que integravam a gestão Azevêdo, na Operação Calvário, do Ministério Público e Gaeco, que apura desvio de verbas na área da Saúde por organizações sociais que gerenciavam a Saúde Pública no Estado. As denúncias sinalizavam o pagamento de propinas a ex-secretários de Ricardo que foram mantidos no governo de Azevêdo, mas acabaram pedindo exonerações dos cargos.
A Operação Calvário resultou na prisão de pelo menos uma secretária influente Livânia Farias, que ocupava a Pasta da Administração e que permaneceu alguns dias detida, tendo feito acordo de colaboração com as autoridades, o que facilitou a sua soltura. Por ocasião do ato de prisão, Livânia foi exonerada, a pedido, pelo governador João Azevêdo. Ricardo Coutinho vinha se queixando, até publicamente, em entrevistas, da forma como o sucessor viria se conduzindo diante das investigações e, sobretudo, da insinuação de envolvimento de ex-integrantes da administração estadual. Para Coutinho, João deveria ter uma postura mais altiva diante do próprio Ministério Público. Ele também preveniu o sucessor para manobras dos adversários políticos com vistas a tentar destruir o projeto socialista que vigora desde o primeiro mandato de Ricardo.
Deputados e líderes de projeção no PSB entraram no circuito para mediar um entendimento entre o ex-governador e o governador João Azevêdo, preocupados com o divisionismo e as consequências que isto poderia acarretar para a continuidade do projeto socialista. Ricardo ficou abespinhado com uma declaração do governador Azevêdo de que se considerava diferente do antecessor. Em meio aos choques e desentendimentos, deputados da oposição mobilizaram-se na Assembleia Legislativa para criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito a fim de apurar desdobramentos da Operação Calvário. Não conseguiram, todavia, quórum para a instalação da CPI, o que não impediu parlamentares de ocupar a tribuna para tecer comentários em tom de ataque ao governo de Ricardo Coutinho. Nos últimos dias, durante um jogo da Copa Nordeste no estádio Almeidão em João Pessoa, Ricardo e Azevêdo se cumprimentaram, mas se mantiveram à distância por ocasião do desenrolar da partida.
A reaproximação, mesmo, ocorreu no último sábado, em uma plenária do Orçamento Democrático do atual governo, que está encerrando a primeira fase de audiências do OD. Ricardo Coutinho compareceu ao evento e defendeu o projeto socialista, ao mesmo tempo em que preconizou a união diante dos ataques que, conforme ele, estão sendo sistematicamente desferidos pelos adversários. Para Ricardo, a ofensiva constitui uma estratégia de políticos derrotados que nunca se conformaram com o resultado das urnas. O governador João Azevêdo reafirmou fidelidade ao projeto socialista. Para os participantes da audiência, a impressão que ficou foi de um ensaio de trégua entre os dois homens públicos.
Nonato Guedes