Numa entrevista concedida à revista Veja e publicada na última edição, que já está circulando, o senador Fernando Collor de Melo revela que ainda examina a hipótese de concorrer novamente à presidência da República, da qual foi afastado em 92, via impeachment, sob acusação de envolvimento com esquema de corrupção montado pelo ex-tesoureiro de sua campanha em 89, Paulo César Cavalcante Farias. Filiado ao PTC, Collor, segundo a revista, ensaia um improbabilíssimo retorno ao Planalto 26 anos depois de escrever seu nome na como o primeiro presidente alvo de impeachment no Brasil.
Além da resistência do próprio partido, Collor enfrenta um fantasma que o acompanha desde que chegou ao poder em 90: a corrupção. Ele foi o primeiro político de peso a ser capturado na teia da Lava-Jato. Segundo as investigações, Collor recebia propina de empresas que prestavam serviços à Petrobras. Acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, deve ter seu caso julgado pelo Supremo Tribunal Federal até o fim do ano e pode ser condenado a até 40 anos de prisão. Mas isso não o preocupa. No âmbito judicial, ele garante que irá provar sua inocência. No campo político, acredita que a Lava-Jato não terá nenhum impacto eleitoral.
Collor conta que não tem a menor ideia do que significam as transferências que teriam sido repassadas de dinheiro do doleiro Alberto Yousseff para ele. Quando o dinheiro surgiu, questionei a origem dele. Não conhecia a pessoa, não sabia de quem se tratava. Pedi ao banco que deixasse fora da minha conta até que a polícia visse o motivo daquele depósito. O dinheiro continua na conta. Está à disposição. Se Yousseff quiser mandar pegar e a Justiça autorizar, pode pegar. Está lá, afirma. Para Collor, se alguém achar que o Congresso vai mudar muito, estará errado, porque o Congresso vai continuar da maneira que está.
Em relação à situação do ex-presidente Lula, que foi condenado e está preso na Polícia Federal em Curitiba, Collor comentou que, ao que parece, vem sendo cometida uma série de injustiças e avalia como exagerada a pena de 12 anos atribuída ao líder petista. Eu não acho que o Lula seja corrupto, frisou, acrescentando que o processo de impeachment é um sofrimento terrível. Mas ele votou a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff por considerar que ela merecia a punição.
Textualmente, declara Collor: Faltando uma semana para a votação (do impeachment) fui ao Alvorada. Dilma estava feliz da vida. O estado de espírito era o de que não estava acontecendo nada e tudo seria resolvido. Ela foi cassada pela soberba, pela falta de humildade, por não aceitar sugestão de uma pessoa que só queria ajudar. Quando Antonio Palocci ainda era chefe da Casa Civil, pedi uma audiência com ele. Disse que estava preocupado com o andamento dos fatos no Congresso e que se Dilma continuasse daquela maneira, as coisas caminhariam para o impeachment. Ele me olhou com uma expressão que não escondia certo desprezo. Por enquanto, Collor se diz pré-candidato a presidente da República.
Nonato Guedes