Considerada a mais vigorosa investida já praticada no Brasil contra a corrupção, a Operação Lava Jato corre o risco de ser esvaziada e, consequentemente, abreviada, diante de medidas tomadas pela Polícia Federal desativando núcleos de investigação montados em Curitiba. O receio quanto a manobras pelo fim da Lava Jato é manifestado abertamente por juízes e procuradores que têm avançado muito no cerco aos corruptos e aplicação de punições contra eles. Dois dos expoentes mais ilustres da Operação – Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, advertiram para o perigo de desmonte da mais bem-sucedida iniciativa de combate à corrupção já experimentada no País.
No prefácio ao livro “Sérgio Moro – A história do homem por trás da operação que mudou o Brasil”, da jornalista Joice Hasselmann, o jornalista paraibano José Nêumanne Pinto, do jornal “O Estado de São Paulo” ressalta que a operação acabou se revelando um exemplo de bom combate ao poder do crime. Nêumanne acentua que coube a Moro analisar com rigor e justiça investigações da Polícia Federal, acusações do Ministério Público Federal e provas que foram coletadas para julgar delitos e punir ou inocentar acusados de havê-los cometido. “Os eventuais delitos cometidos por suspeitos, denunciados, acusados e réus do escândalo que coube a Moro julgar dizem respeito à formação de uma quadrilha bastante ramificada e com poderosos bandidos de colarinho branco que roubaram bilhões de reais do dinheiro público.
De acordo com Nêumanne, a lavagem de dinheiro é um crime contábil, muito difícil de ser investigado por exigir perícia e atenção para evitar que os gestores públicos em altos cargos envolvidos com o bando pudessem causar graves danos à carreira e à vida de Moro. Mas, na sua opinião, Sérgio Moro portou-se com eficiência e habilidade. “Sob o império da impunidade havia se constituído no país uma organização criminosa que assaltou com método e volúpia empresas estatais gigantescas, bancos públicos e órgãos conexos à gestão federal, como os fundos de pensão. Para identificar e punir os burocratas que facilitaram o crime, os empresários que lucraram com ele e os políticos que deles se beneficiaram, Moro empregou seus profundos conhecimentos sobre a matéria que julgou. “E isto só foi possível mercê de muita coragem e de uma sólda formação pessoal”, acrescentou Nêumanne.
Nos desdobramentos da Operação, caíram peças-chaves do esquema de corrupção como os ex-presidentes do PT José Dirceu e José Genoíno, ex-ministros de governos petistas, empreiteiros como Marcelo Odebrecht, políticos de outras legendas como Sérgio Cabral, do PMDB. O apoio do Ministério Público e da Polícia Federal foi decisivo para os avanços alcançados pela operação Lava-Jato. Moro havia trabalhado em investigações sobre o caso do Banestado, remetente ao final da Era Fernando Henrique Cardoso, e do Mensalão, dois episódios de extrema gravidade e relevância. Por outro lado, foi antológico o embate do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o juiz Sérgio Moro durante depoimento que Lula prestou em Curitiba, base das operações disseminadas por 26 Estados e pelo Distrito Federal. Lula tentou, várias vezes, intimidar o juiz Sérgio Moro, mas caiu em sucessivas contradições. O juiz, que passou a dar autógrafos e a ser aplaudo no meio da rua, lutou obstinadamente para que a Operação concluísse seu trabalho de forma eficiente. Mas está preocupado com as medidas subreptícias que estão sendo tomadas da parte do governo Michel Temer para esvaziar a Operação.
Nonato Guedes