Linaldo Guedes
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Cinema é muito mais do que a tecnologia que reproduz fotogramas de forma rápida e sucessiva criando a chamada “ilusão de movimento”. Cinema é muito mais do que todos os filmes de Martin Scorcese. Do que todos os filmes da Marvel ou DC Comics. Cinema é arte, sim. Mas é também, sobretudo, diversão, entretenimento.
Martin Scorcese colocou pimenta no angu dos cinéfilos ao dizer que os filmes da Marvel não são cinema. “Eu não vejo (os filmes). Eu tentei, sabe? Mas aquilo não é cinema. Honestamente, o mais próximo que consigo pensar deles, por mais bem-feitos que sejam, com os atores fazendo o melhor que podem sob as circunstâncias, são os parques temáticos. Não é o cinema de seres humanos tentando transmitir experiências emocionais e psicológicas a outro ser humano”, detonou.
Como toda ação, as críticas de Scorcese geraram reação imediata. Robert Downey Jr., que interpreta Homem de Ferro no universo Mavel, saiu pela tangente: “Nós precisamos de todas as diferentes perspectivas para podermos chegar ao centro e seguir adiante”, disse. Samuel L. Jackson foi bem mais irônico: “É como dizer que o Pernalonga não é engraçado. Um filme é um filme. Nem todo mundo gosta dos filmes dele. Eu gosto, mas tem muitos ítalo-americanos que dizem que não se deveria fazer filmes sobre eles dessa maneira. Todo mundo tem uma opinião, por mim, OK. Não vai impedir ninguém de fazer filmes. Nós só queremos que continue sendo cada vez maior e mais lendário”.
Isso! Cada um tem sua maneira de fazer um filme. E cada espectador tem sua maneira de receber determinado filme. Há alguns como esse colunista, cujos primeiros filmes que assistiu foram de faroeste e kung fu no antigo Cine Pax de Cajazeiras. Depois, em João Pessoa, passou para os filmes dos Trapalhões, até descobrir alguns filmes nacionais de Jabor, Cacá Diegues e outros. Depois o Cinema Novo de Glauber Rocha, Taxi Driver, de Scorcese, clássicos de Hollywood, como Casablanca e E O Vento Levou até chegar no Universo Marvel e DC Comics, sem medo de ser feliz, nem de chorar com que o vê nas telas de cinema.
Fico matutando se todas essas películas que assisti ao longo de pelo menos quatro décadas são cinema. Quem vai me definir isso? Scorcese? Prefiro ler as resenhas de João Batista de Brito e Renato Felix e assistir aos filmes de Scorcese, sem abrir mão de ver Os Vingadores. Tenho um fascínio por filme épicos, mas dependendo do tema eles talvez não sejam cinema. Como saber? Agora mesmo estou agoniado de curiosidade para assistir Coringa e Bacurau. Confesso, no entanto, para meus poucos leitores, que a curiosidade maior é pelo Coringa, que, contam os cinéfilos, quase foi dirigido por Scorcese.
Cinema é movimento. Neste sentido, Scorcese acertou, quando comparou os filmes da Marvel a parques temáticos. Cinema, na maioria das vezes, é um parque de diversões. É para isso que às vezes saímos de casa para as salas dos shoppings. Às vezes saímos para chorar também. Como saber? Só diante da tela reagimos de acordo com nossa recepção. Há filmes de Scorcese que acho chato pra caramba, como “A Invenção de Hugo Cabret”, mas há quem ame esse filme. Já imaginou se Glauber Rocha dissesse que cinema era só aquilo que ele produzia? Você ir para o Cinema ver apenas filmes no estilo de “Terra em Transe”, não há cristão que agüente. Quer saber? Scorcese é um baita de um Cinema! Mas eu prefiro Almodóvar!
Linaldo Guedes é poeta, jornalista e editor. Com 11 livros publicados e textos em mais de trinta obras nos mais diversos gêneros, é membro da Academia Cajazeirense de Artes e Letras (Acal) e editor na Arribaçã Editora. Reside em Cajazeiras, Alto Sertão da Paraíba, e nasceu em 1968.