O site O Antagonista noticiou a escolha do deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB-PB) para presidir o Instituto Teotônio Vilela, órgão de estudos e debates da conjuntura política-institucional da direção nacional do partido, até aqui dirigido pelo senador pelo Ceará Tasso Jereissati. Pedro teve o aval do governador de São Paulo, João Doria, com quem possui excelente grau de interlocução, juntamente com seu pai, o ex-senador e ex-governador Cássio Cunha Lima. Vai fazer contraponto, na disputa política regional, ao ex-governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), que tão logo deixou o mandato no último dia de dezembro de 2018 foi oficializado presidente da Fundação João Mangabeira, o instituto de estudos políticos do Partido Socialista a nível nacional, com sede em Brasília.
Coutinho e Cunha Lima são, atualmente, adversários políticos ferrenhos no Estado. Estiveram aliados em uma única vez, na eleição de 2010, quando Cássio, que havia sido cassado como governador faltando poucos meses para concluir a segunda gestão em fevereiro de 2009, pelo TSE, apoiou a candidatura do socialista ao governo, recebendo retribuição de votos para uma vaga ao Senado. A dobradinha foi vitoriosa, derrotando o então peemedebista José Maranhão, que assumiu o Palácio da Redenção, por determinação do Tribunal Superior Eleitoral, para concluir o mandato de Cássio interrompido com a punição. Na época, Cássio foi acusado de conduta vedada e improbidade administrativa, o que ele refutou categoricamente. Também repudiou a decisão do TSE de cassá-lo como governador, afirmando ter sido vítima do maior erro judiciário do país nos últimos tempos.
A aliança entre Cássio e Ricardo foi desfeita já nas eleições de 2014, quando os dois se enfrentaram ao governo do Estado. Coutinho, na ocasião, pleiteava a reeleição, e acabou sendo vitorioso, em meio a denúncias de Cássio sobre rolo compressor do governo do Estado que teria desequilibrado o resultado democrático do pleito e interferido na manifestação legítima do eleitor. Ricardo exerceu integralmente o segundo mandato, tendo permanecido no cargo até o último dia e sido decisivo para a vitória do seu candidato, João Azevêdo, do PSB, no primeiro turno. Ricardo assistiu, ainda, de camarote, à derrota acachapante de Cássio na tentativa de se reeleger ao Senado. Cunha Lima considerou-se vítima de tsunami político-eleitoral que teria eclodido no país numa conjuntura atípica na qual um outsider como Jair Bolsonaro logrou se eleger presidente da República.
Neste final de semana em João Pessoa o deputado Pedro Cunha Lima, que preside a Comissão de Educação da Câmara, foi eleito presidente do diretório estadual do PSDB, tendo como vice a deputada estadual Camila Toscano e substituindo no cargo ao deputado federal Ruy Carneiro. Seu pai, o ex-senador Cássio, evitou comparecer ao evento, liberando Pedro para exercitar sua desenvoltura como novo representante do clã com raízes em Campina Grande e que teve como uma outra grande expressão o poeta e ex-governador Ronaldo Cunha Lima. João Mangabeira, que denomina a Fundação presidida por Ricardo Coutinho, foi um político socialista respeitado no cenário nacional. Tinha raízes na Bahia e, além da atividade política-parlamentar, credenciava-se como um profundo estudioso da questão nacional e, em particular, da filosofia socialista.
Teotônio Vilela, por sua vez, era um político e empresário de Alagoas, que chegou a ser deputado estadual, vice-governador e senador. Tinha ligações com usineiros do Estado de origem, onde nasceu a 28 de maio de 1917, falecendo em 27 de novembro de 1983. Foi filiado aos quadros da UDN e da Arena, mas ganhou surpreendente notoriedade política quando migrou para o MDB, depois para o PMDB, ainda em plena vigência da ditadura militar, passando a fazer duras críticas ao regime, empalmando a campanha pela concessão da anistia a presos políticos opositores dos militares e filiando-se à mobilização pela convocação de Constituinte e de eleições diretas. Essa guinada política de Teotônio Brandão Vilela coincidiu com um câncer de que foi vítima e que ficou exposto publicamente nos eventos e manifestações de que ele participava em defesa da redemocratização do país. Imortalizado em música como o menestrel das Alagoas, Teotônio Vilela passou a ser uma figura acolhida entre os segmentos oposicionistas. Era pai do governador Teotônio Vilela Filho, que administrou Alagoas até 2015.
Nonato Guedes